sexta-feira, 1 de julho de 2011

Capítulo 12: Mais reflexões

Renata foi acordada às 7 da manhã após uma pesada noite de sono. Em outros tempos, certamente teria chegado às 5 após uma noite de farra com seus amigos baianos. Mas tudo indicava que eram outros tempos e a “pegadora” ainda se sentia cansada. Agradeceu à recepção por despertá-la e foi tomar um banho morno. O sol e o calor já despontavam através da janela. Faria parte de uma comissão de auditores na parte da manhã e à tarde teria uma reunião com os diretores da rede de hotéis. Seu momento profissional era maravilhoso, mas não conseguia se sentir feliz. Queria saber como estava Luciana... “por que não me atendeu ontem? Provavelmente viu meu número e ignorou...”. Vestiu-se e foi até a janela olhar o mar... talvez fosse até a praia entre um compromisso e outro. O dia estava fantástico.

Lu acordou às 6. Estava enlaçada por Malu que dormia profundamente. “Preciso ir embora...” – pensou como quem quisesse fugir logo dali antes de se envolver. “Não sirvo para ser pegadora”. Levantou-se com cuidado, vestiu-se e ia saindo quando: “Não posso simplesmente sair... sem ao menos me despedir decentemente...”. Encontrou um bloco de notas, escreveu seu número de celular e “me liga, foi maravilhoso te conhecer. Beijos, Lu.” – é... Luciana não servia mesmo para ser... pegadora.
Pegou um táxi e foi para o hotel. No caminho lembrou-se da noite que passou com Malu... às vezes não se reconhecia: “Só uma louca para ir a uma festa, conhecer alguém e transar no primeiro encontro!” Pois é, ela era louca algumas vezes... demorava a ousar mas quando o fazia caprichava, talvez essa seja uma atitude típica das pessoas aparentemente contidas, ou reprimidas, ou... racionais. Ninguém é cerebral o tempo todo, o mesmo acontece com os emocionais. Interessante... provavelmente a psicanálise explique... ou não. Um sorriso malicioso despontou em seu rosto ao recapitular a noite de sexo que teve com aquela mulher que mal conhecia, sexo casual... “é isso que chamam de sexo casual, não é?”... sua primeira mulher, estava “iniciada”, não era mais virgem. Não teve o pensamento romântico de querer que Renata fosse sua primeira transa homossexual. Acabava de descobrir que talvez não fosse tão romântica assim. Realmente algumas experiências nos mostram muito de nós mesmos.
O motorista parou em frente ao hotel e, já no elevador, tirou o celular da bolsa para ver que horas eram: havia uma ligação não atendida... era de Renata.

Quando, após sensações, impressões, percepções e afins, descobrimos que a paixão nos assolou, tornamo-nos seres instáveis e sensíveis, ficamos 100% atentos a tudo o que acontece com a pessoa amada a fim de alcançá-la por meio de agrados ou atitudes notáveis, para que ela nos enxergue do modo que a enxergamos. Paixão é um troço estranho que nos tira de nós mesmos... perturbação, conflito, angústia, nervosismo, adrenalina. Pode ser uma tortura essa manifestação “química” que nos embriaga, mas esperamos todo o tempo de nossa existência por toda essa manifestação... por uma reação avassaladora. Isso porque somos pobres mortais viciados em paixão. Viver apaixonado é como viver embriagado de sensações aparentemente banais.
Renata viajava de um lado e Luciana do outro. Ambas em lugares diferentes e no mesmo lugar. Uma pensando na outra, no que estavam fazendo, no que pensavam... o sentimento do clima no ar e muita confusão entre elas. O quadro era o seguinte:

RENATA
Sentada numa cadeira de praia, na praia, após a auditoria. Relaxava olhando o mar e pensando em Luciana. “Quem diria que um dia eu estaria assim, completamente de quatro por uma mulher que tanto ignorei... Eu... apaixonada por Luciana. Poucas vezes me senti embaraçada numa situação, mas agora estou. Como olhar para ela depois daquele dia em seu apartamento? Bêbada, totalmente enlouquecida pela vontade de estar com ela, trocando os pés pelas mãos e a intimidando daquela maneira. Logo ela que já é tímida... tão racional. O pior de tudo é que não conversamos a respeito, se ao menos ela soubesse de minhas intenções, mas era Camila quem estava preparando tudo para não assustá-la... aí eu vou e estrago tudo...”. Uma multidão de homens e mulheres charmosos passavam por ela e ela nem piscava... alheia a tudo. Se não estivesse apaixonada certamente enlouqueceria com tanto charme desfilando à sua volta. Essa é a paixão que cega. “Bom, vou entender se ela disser que não quer envolvimento nenhum comigo. Vai doer, mas tenho que respeitá-la... mas não vou desistir, ela precisa perceber, com o tempo, que eu a quero como namorada, não como um caso como tantos que tive e ela foi testemunha. Vou ligar...”.

LUCIANA
“Por que será que ela me ligou? O que iria me dizer?”. Luciana entrou em seu quarto e sentou-se na poltrona que dava para a vista da cidade. Olhava para os prédios ao redor mas não os via porque estava alheia: “Se ela tivesse conversado comigo, dito o que queria talvez eu ficasse com ela, mataria a sua vontade e a minha... apesar de estar apaixonada. Depois de passar uma noite como a que passei ontem entendi que alguns envolvimentos não são necessários... são apenas encontros para o prazer e a satisfação. Era isso o que ela queria... talvez eu desse o que ela queria. Mas chegar daquela maneira... eu não consigo me acostumar com esse tipo de abordagem... ela me deixou completamente sem ação e irritada por não saber o que fazer diante daquela invasão...”. Olhou novamente para o celular e lembrou-se do beijo: “Mas, se eu fosse um pouquinho mais desencanada teria agarrado Renata e a levado para meu quarto. Por que tenho que ser assim, tão metódica? Eu poderia ter feito com Renata o mesmo que fiz ontem com Malu, seduzi-la, mostrar que também posso controlar a situação. Mas... é difícil quando se está diante de uma paixão, diante de alguém que faz minhas pernas tremerem e meu rosto corar quando me toca. Difícil aceitar que seria apenas uma transa quando eu queria acordar todos os dias ao seu lado”.
O celular vibrou em suas mãos. Era Renata.
Instantaneamente Lu começou a tremer, seu coração disparou e sua boca secou. Ficou olhando para o aparelho resolvendo se atenderia ou não. Essa é a adrenalina da paixão.
— Alô! – atendeu com uma voz insegura, mas logo pigarreou para firmá-la.
— Lu? – do outro lado da linha havia uma voz mais treinada... Renata havia pigarreado antes.
— Eu. – Lu tinha dificuldades em organizar frases complexas quando se sentia intimidada.
— É Renata. – bom, pelo visto, Renata também tinha o mesmo problema.
— Eu sei. – alguém precisava sair do óbvio.
Rê pigarreou:
— Bom, é... Lu, preciso falar com você... – Renata tinha pensado em tudo antes mas, de repente, surgiu uma imensa borracha que apagou as frases feitas em sua mente... sem contar que seu coração estava na boca, impedindo-a de falar. — Eu sei que poderia esperar chegarmos em São Paulo, mas... eu queria saber se quando chegarmos poderemos conversar... para que eu possa me desculpar por aquilo... – já está de bom tamanho, Renata... seu esforço em emitir uma frase complexa foi surpreendente.
— Tá... poderemos conversar sim. – Luciana não obteve o mesmo sucesso... seu coração a estava sufocando.
— Que dia você estará de volta?
— Amanhã.
— Eu voltarei hoje. – silêncio. Nenhuma das duas suportava mais. — Então amanhã à noite te ligo.
— Tá.
— Tchau.
— Tchau.
Ambas desligaram, fecharam os olhos e respiraram fundo. Naquele momento perceberam o poder que a paixão exercia sobre elas. O sentimento era o mesmo... só precisavam saber se iriam se entender.

continua...

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