quinta-feira, 28 de julho de 2011

Capítulo 16: Como os apaixonados são dramáticos!

Renata ainda estava ofegante e pensando no que diria quando viu o carro de Caio parar do outro lado da rua. Luciana estava nele: “Eu não mereço vê-la despedindo-se desse jornalista com um beijo...”. Olhava fixamente para eles até que viu Luciana sair do carro com uma expressão estranha e Caio arrancou sem esperar que ela entrasse no prédio: “Que grosso! Estúpido! Como não espera que ela entre e tenha certeza de que está em segurança?!”.
Quando ia sair do carro para que Luciana a visse, Lu foi mais rápida e atravessou a rua.

Caio continuava a falar sem parar e eu não aguentava mais:
— Caio, pelo amor de Deus, para de falar!
Ele ficou olhando para Luciana de boca aberta, com a frase pela metade.
— Desculpa, mas a noite foi uma merda. Acho que a Camila armou tudo isso... eu não queria estar lá com você. – ele já havia fechado a boca e feito expressão de qualquer-outra-coisa. Ia falar novamente, mas Lu não permitiu: — Quer saber, não fui por sua causa, fui porque Renata estaria lá... – ele fez cara de você-quer-dizer-que quando Lu, num dos seus acessos de impulsividade e loucura, finalmente, disse: — Sou apaixonada pela Renata, Caio... e nesta noite deu tudo errado! E você ainda fez o favor de me beijar!!!
Caio já estava com sua cara definitiva de que-mico, quando parou o carro na frente do prédio de sua amiga..., ... lésbica.
— Olha, desculpa, tá? Eu não queria que nada disso tivesse acontecido, mas vá tirar satisfações com aquela ridícula da Camila. Depois conversamos melhor.
Saiu do carro de Caio rapidamente porque já tinha visto o carro de Renata parado do outro lado da rua: “Não acredito!”.

Renata saiu do carro com cara de poucos amigos.
— Quero conversar. – foi o que disse assim que Lu veio sorridente ao seu encontro. Luciana logo percebeu que teria que ouvir um turbilhão de desaforos de Renata antes de dizer algo. Ficou séria, teve dúvidas... A insegurança começava a dar o ar da desgraça... “E se ela achar que eu deixei o Caio me beijar? Bom, ele disse que eu deixei... mas nem sabia o que ele dizia naquele inferno de bar... eu só tinha minha atenção voltada para ela e para aquele primo...”
— Tá... vamos conversar. Vamos subir...
— Não. Entra... vamos conversar aqui mesmo porque não vou demorar. – melhor ser breve, despejar logo tudo de uma vez e ir embora chorar.
Lu nunca a tinha visto tão nervosa. Baixou a cabeça e deu a volta no carro para entrar. Ficaram um momento eterno em silêncio... ambas treinando mentalmente o que dizer num momento decisivo como aquele. Lu pigarreou e Rê, como que despertada pelo mínimo barulho, começou... sabia que a amiga não teria frases naquela situação:
— Olha Lu... me desculpa por ter acabado com seu encontro com o Caio, mas eu não poderia continuar ali vendo vocês dois juntos...
— Não estávamos juntos. – disse num fio de voz. Era um fio diante da trovoada da voz de Renata, sonora, nervosa, determinada. Mas, de qualquer forma, Lu não desenvolvia longas frases diante dessas situações.
— Não? Não estavam? Por favor, Lu... eu vi... vocês iam se beijar... se é que não se beijaram. – Luciana, naquele momento, a encarava e pretendia se defender – com frases curtas, obviamente –, mas Renata não deixava que a pobre dissesse nada: — Eu sei que combinamos de esquecermos o que aconteceu, de fingirmos que não aconteceu nada no dia do meu aniversário... mas não consigo, não consigo fingir que não quero você, que não estou apaixonada por você e...
— Eu te amo!
— ... e... que eu... an? O que..., ..., ... o que você disse?
Lu não poderia esperar para repetir o que disse. Avançou sobre Renata e a beijou com pressa porque já haviam perdido tempo demais. Toda a determinação de Renata em dizer vários desaforos para seu amor foi para o espaço... derretia-se no beijo amoroso, ardente... transbordado de uma intensidade reprimida por tanto tempo e, por isso mesmo, tão mais delicioso e mais sensual e mais desejado por elas que esqueciam de tudo o que havia acabado de acontecer há menos de cinco minutos. Lu, numa crise de impulsividade inédita e feliz, segurava o rosto de Renata com as duas mãos enquanto Rê acariciava suas costas e seu cabelo. O beijo demorava... agora não havia mais pressa.
O beijo era uma explosão de alegria, alívio, tesão, aflição, excitação... um sofrimento porque toda a intensidade estava ali e a intensidade não cabia nelas. Renata queria integrar-se, fundir-se à Luciana. Sentir seus lábios, seu beijo apaixonado era uma sensação inexplicável, e ela não queria dar nomes à nada, só queria sentir.
Lu parou o beijo no meio do incêndio e Rê abriu os olhos.
— Vamos subir. – o lado bom das frases curtas num momento de tensão é a objetividade.
Saíram do carro trôpegas, bêbadas de vontade. Lu puxou Renata pela mão a caminho da portaria. Entraram rapidamente no elevador e ficaram encostadas na lateral, uma de frente para a outra, ofegantes.
Renata nem conseguia sorrir, só observar encantada aquela mulher diante de si que a devorava com o olhar imenso e brilhante. O desejo vazava por seus olhos, ela via. Lu, até que o elevador parasse no andar de seu apartamento – e isso estava demorando uma eternidade – constatava que nunca foi tão feliz.
Quando a porta metálica se abriu no andar, Renata puxou Luciana de costas para si.
— Lu, abre logo essa porta porque não aguento mais.
Luciana encaixou-se no abraço e sorriu seu sorriso mais malicioso antes de enfiar a chave no trinco.
Quando finalmente sentiram-se à vontade para extravasar impulsos e instintos sem se preocuparem com nada, Luciana virou-se para Renata e a beijou como nunca havia beijado ninguém porque todas as bocas que beijou não se encaixavam na sua como a de Renata, que a fazia sair do chão de excitação. “Imagina como será o resto”. Renata, sem desgrudar sua boca da de Luciana, empurrava-a em direção ao quarto, à cama que tanto sonhou estar. No meio do caminho, suas mãos habilidosas abriram a camisa e o feixe do sutiã de Lu, que se arrepiava e Renata enlouquecia. Beijou, sugou, lambeu seu pescoço com gosto e cheiro de uma Luciana deliciosa até ali: “imagina como será o resto”. Deixou que Lu abrisse sua calça e sorriu com a boca na dela enquanto arrancava com pressa sua camisa e levantava os braços para que Lu puxasse sua blusa. Quando a morena vislumbrou maravilhada seus seios e os tocou, Renata, trêmula, quase deixa escapar o gozo “não! rápido assim, não”. Empurrou delicadamente Lu sobre a cama e caiu sobre ela para terminar de tirar a roupa que sobrou. Com movimentos lentos para não perder um lance de toda aquela cena, Renata despiu aquela mulher linda, de corpo perfeito... perfeito para ela, para seu amor.
Sentiu-a arrepiar-se, entregar-se. Seus corpos se encaixaram e o vai e vem e a profundidade com que Renata invadiu Luciana a fez querer que aquilo tudo nunca terminasse. Lu sentia-se plena. Fazer sexo era maravilhoso, mas fazer amor era o ápice de uma felicidade recente para ela e quis saborear demoradamente cada toque, beijo, sensação, explosão. Ter Renata apaixonada, tão entregue, tão sua a fez sentir-se poderosa, sem pudores.
Beijou com fúria, ternura, pressa e sensualidade, passeou suas mãos por aquele corpo lindo, perfeito... perfeito para ela, para seu amor. Conheceu Renata de verdade, mergulhou entre suas pernas, tocou com a língua sedenta seu ponto mais sensível e a tomou com a vontade de anos (tanto desejo acumulado só poderia ter se iniciado sete anos atrás) e Renata tremeu, gemeu, gritou e a apertou entre suas coxas como se fosse seu último suspiro. Lu foi até ela saciada temporariamente, foi até seus olhos relaxados, até sua boca sorridente... Como seus dentes eram bonitos, seus cílios compridos... detalhes... Luciana estava maravilhada pelos detalhes, e a abraçou deitando-se sobre seus seios que ainda se movimentavam ofegantes e, aos poucos, iam se apaziguando. Renata beijou ternamente sua cabeça, acariciou a pele daquela mulher que finalmente era sua.
E adormeceram.

Renata abriu os olhos e sentiu a sensação de não estar na sua cama, nem no seu quarto, mas em seguida sorriu para si mesma porque se deu conta de que estava no quarto que tanto desejou estar, abraçada a sua tímida namorada – que nem era tão tímida assim – na verdade, a timidez de Luciana era apenas mais um traço exótico da complexa personalidade daquela linda mulher, aquela que estava em seus braços e que tanto a irritou no passado, tanto a testou. Renata traçava, naquele momento de paz, a trajetória que ambas traçaram até ali. “Quem diria que estaria aqui, assim, com a pati que conheci há sete anos...”. Sorria por dentro enquanto apertava mais aquela mulher que tanto se transformou e que a conquistou aos poucos... agora percebia o quanto também havia se transformado, ambas se aperfeiçoado para caberem-se uma na outra.
Lu, abraçada por Renata, sentia-se completa... agradecia aos seus ataques de impulsividade, agradecia por tudo o que havia passado até estar ali com sua menina rebelde e sorridente... teria consigo uma alegria ambulante, alguém que a deixava feliz pelo simples fato de estar perto. Teria muito que agradecer a Camila, sua querida cupido, que soube de tudo desde o começo. Beijou a mão que enlaçava a sua. Então Renata percebeu que não era a única que sonhava acordada e beijou o pescoço de Lu que se virou para ela com um sorriso encantador. Seus corpos já davam sinais de vontade.
— O que você disse mesmo antes de me beijar no carro?
— Disse que te amo. – ficaram se olhando durante momentos deliciosamente ternos e eternos. — O que você iria dizer quando te beijei no carro?
— Que te amo.
Beijaram-se mais uma vez, fizeram amor mais uma vez e foram felizes durante a eternidade que um amor pode durar.

ANTES DISSO, NO BAR...

— Para de beijar que preciso falar com você!!! – era Caio furioso puxando Camila pelo braço.
— Seu estúpido! Estou conversando com o cafa... quer dizer... com seu amigo!!!
— Que história é essa de que a Luciana é lésbica? Você sabia e mesmo assim armou para eu ficar com ela?!
Camila suspirou, despediu-se de Cafa e foi com Caio para um canto qualquer do bar onde pudessem conversar sobre a incrível descoberta. Fez cara de tédio e concluiu para si mesma que os meios justificam os fins. Ela nunca havia pedido para ser Cupido, portanto...
Conversaram e no fim ela até conseguiu fazer Caio rir de tudo aquilo e, mais no fim ainda eles gargalhavam de toda aquela história e chegaram a brindar a felicidade das amigas.
No fim mesmo, Camila e Caio ficaram juntos e juntos juntavam alguns casais. Na verdade, Caio não fazia a mínima ideia de que também era Cupido. Esse Destino é mesmo um sacaneador!

FIM.

3 comentários:

Vanessa disse...

Muito bom, Mari!

Essa história é tão fofa. Adorei reler! Adorei o plus!

Agora é esperar pela próxima. Quando sai uma nova?

Beijo!

Mariana Cortez disse...

Brigada, Vanessa!! Também gosto bastante dessa, sempre bom relê-la.
Bom... agora... uma nova, acho que vai demorar um pouquinho, mas prometo caprichar. ;) Beijos!

Anônimo disse...

Linda Mariana,
Acho que você não passa por aqui já faz um bucadim e até acredito que nem ler este recado irá, mas o que está valendo agora minha flor é a lembrança e adorei voltar aqui e reler suas belas histórias. Sou sua fã ainda. De carteirinha...
Ana Maria