quinta-feira, 28 de julho de 2011

Capítulo 16: Como os apaixonados são dramáticos!

Renata ainda estava ofegante e pensando no que diria quando viu o carro de Caio parar do outro lado da rua. Luciana estava nele: “Eu não mereço vê-la despedindo-se desse jornalista com um beijo...”. Olhava fixamente para eles até que viu Luciana sair do carro com uma expressão estranha e Caio arrancou sem esperar que ela entrasse no prédio: “Que grosso! Estúpido! Como não espera que ela entre e tenha certeza de que está em segurança?!”.
Quando ia sair do carro para que Luciana a visse, Lu foi mais rápida e atravessou a rua.

Caio continuava a falar sem parar e eu não aguentava mais:
— Caio, pelo amor de Deus, para de falar!
Ele ficou olhando para Luciana de boca aberta, com a frase pela metade.
— Desculpa, mas a noite foi uma merda. Acho que a Camila armou tudo isso... eu não queria estar lá com você. – ele já havia fechado a boca e feito expressão de qualquer-outra-coisa. Ia falar novamente, mas Lu não permitiu: — Quer saber, não fui por sua causa, fui porque Renata estaria lá... – ele fez cara de você-quer-dizer-que quando Lu, num dos seus acessos de impulsividade e loucura, finalmente, disse: — Sou apaixonada pela Renata, Caio... e nesta noite deu tudo errado! E você ainda fez o favor de me beijar!!!
Caio já estava com sua cara definitiva de que-mico, quando parou o carro na frente do prédio de sua amiga..., ... lésbica.
— Olha, desculpa, tá? Eu não queria que nada disso tivesse acontecido, mas vá tirar satisfações com aquela ridícula da Camila. Depois conversamos melhor.
Saiu do carro de Caio rapidamente porque já tinha visto o carro de Renata parado do outro lado da rua: “Não acredito!”.

Renata saiu do carro com cara de poucos amigos.
— Quero conversar. – foi o que disse assim que Lu veio sorridente ao seu encontro. Luciana logo percebeu que teria que ouvir um turbilhão de desaforos de Renata antes de dizer algo. Ficou séria, teve dúvidas... A insegurança começava a dar o ar da desgraça... “E se ela achar que eu deixei o Caio me beijar? Bom, ele disse que eu deixei... mas nem sabia o que ele dizia naquele inferno de bar... eu só tinha minha atenção voltada para ela e para aquele primo...”
— Tá... vamos conversar. Vamos subir...
— Não. Entra... vamos conversar aqui mesmo porque não vou demorar. – melhor ser breve, despejar logo tudo de uma vez e ir embora chorar.
Lu nunca a tinha visto tão nervosa. Baixou a cabeça e deu a volta no carro para entrar. Ficaram um momento eterno em silêncio... ambas treinando mentalmente o que dizer num momento decisivo como aquele. Lu pigarreou e Rê, como que despertada pelo mínimo barulho, começou... sabia que a amiga não teria frases naquela situação:
— Olha Lu... me desculpa por ter acabado com seu encontro com o Caio, mas eu não poderia continuar ali vendo vocês dois juntos...
— Não estávamos juntos. – disse num fio de voz. Era um fio diante da trovoada da voz de Renata, sonora, nervosa, determinada. Mas, de qualquer forma, Lu não desenvolvia longas frases diante dessas situações.
— Não? Não estavam? Por favor, Lu... eu vi... vocês iam se beijar... se é que não se beijaram. – Luciana, naquele momento, a encarava e pretendia se defender – com frases curtas, obviamente –, mas Renata não deixava que a pobre dissesse nada: — Eu sei que combinamos de esquecermos o que aconteceu, de fingirmos que não aconteceu nada no dia do meu aniversário... mas não consigo, não consigo fingir que não quero você, que não estou apaixonada por você e...
— Eu te amo!
— ... e... que eu... an? O que..., ..., ... o que você disse?
Lu não poderia esperar para repetir o que disse. Avançou sobre Renata e a beijou com pressa porque já haviam perdido tempo demais. Toda a determinação de Renata em dizer vários desaforos para seu amor foi para o espaço... derretia-se no beijo amoroso, ardente... transbordado de uma intensidade reprimida por tanto tempo e, por isso mesmo, tão mais delicioso e mais sensual e mais desejado por elas que esqueciam de tudo o que havia acabado de acontecer há menos de cinco minutos. Lu, numa crise de impulsividade inédita e feliz, segurava o rosto de Renata com as duas mãos enquanto Rê acariciava suas costas e seu cabelo. O beijo demorava... agora não havia mais pressa.
O beijo era uma explosão de alegria, alívio, tesão, aflição, excitação... um sofrimento porque toda a intensidade estava ali e a intensidade não cabia nelas. Renata queria integrar-se, fundir-se à Luciana. Sentir seus lábios, seu beijo apaixonado era uma sensação inexplicável, e ela não queria dar nomes à nada, só queria sentir.
Lu parou o beijo no meio do incêndio e Rê abriu os olhos.
— Vamos subir. – o lado bom das frases curtas num momento de tensão é a objetividade.
Saíram do carro trôpegas, bêbadas de vontade. Lu puxou Renata pela mão a caminho da portaria. Entraram rapidamente no elevador e ficaram encostadas na lateral, uma de frente para a outra, ofegantes.
Renata nem conseguia sorrir, só observar encantada aquela mulher diante de si que a devorava com o olhar imenso e brilhante. O desejo vazava por seus olhos, ela via. Lu, até que o elevador parasse no andar de seu apartamento – e isso estava demorando uma eternidade – constatava que nunca foi tão feliz.
Quando a porta metálica se abriu no andar, Renata puxou Luciana de costas para si.
— Lu, abre logo essa porta porque não aguento mais.
Luciana encaixou-se no abraço e sorriu seu sorriso mais malicioso antes de enfiar a chave no trinco.
Quando finalmente sentiram-se à vontade para extravasar impulsos e instintos sem se preocuparem com nada, Luciana virou-se para Renata e a beijou como nunca havia beijado ninguém porque todas as bocas que beijou não se encaixavam na sua como a de Renata, que a fazia sair do chão de excitação. “Imagina como será o resto”. Renata, sem desgrudar sua boca da de Luciana, empurrava-a em direção ao quarto, à cama que tanto sonhou estar. No meio do caminho, suas mãos habilidosas abriram a camisa e o feixe do sutiã de Lu, que se arrepiava e Renata enlouquecia. Beijou, sugou, lambeu seu pescoço com gosto e cheiro de uma Luciana deliciosa até ali: “imagina como será o resto”. Deixou que Lu abrisse sua calça e sorriu com a boca na dela enquanto arrancava com pressa sua camisa e levantava os braços para que Lu puxasse sua blusa. Quando a morena vislumbrou maravilhada seus seios e os tocou, Renata, trêmula, quase deixa escapar o gozo “não! rápido assim, não”. Empurrou delicadamente Lu sobre a cama e caiu sobre ela para terminar de tirar a roupa que sobrou. Com movimentos lentos para não perder um lance de toda aquela cena, Renata despiu aquela mulher linda, de corpo perfeito... perfeito para ela, para seu amor.
Sentiu-a arrepiar-se, entregar-se. Seus corpos se encaixaram e o vai e vem e a profundidade com que Renata invadiu Luciana a fez querer que aquilo tudo nunca terminasse. Lu sentia-se plena. Fazer sexo era maravilhoso, mas fazer amor era o ápice de uma felicidade recente para ela e quis saborear demoradamente cada toque, beijo, sensação, explosão. Ter Renata apaixonada, tão entregue, tão sua a fez sentir-se poderosa, sem pudores.
Beijou com fúria, ternura, pressa e sensualidade, passeou suas mãos por aquele corpo lindo, perfeito... perfeito para ela, para seu amor. Conheceu Renata de verdade, mergulhou entre suas pernas, tocou com a língua sedenta seu ponto mais sensível e a tomou com a vontade de anos (tanto desejo acumulado só poderia ter se iniciado sete anos atrás) e Renata tremeu, gemeu, gritou e a apertou entre suas coxas como se fosse seu último suspiro. Lu foi até ela saciada temporariamente, foi até seus olhos relaxados, até sua boca sorridente... Como seus dentes eram bonitos, seus cílios compridos... detalhes... Luciana estava maravilhada pelos detalhes, e a abraçou deitando-se sobre seus seios que ainda se movimentavam ofegantes e, aos poucos, iam se apaziguando. Renata beijou ternamente sua cabeça, acariciou a pele daquela mulher que finalmente era sua.
E adormeceram.

Renata abriu os olhos e sentiu a sensação de não estar na sua cama, nem no seu quarto, mas em seguida sorriu para si mesma porque se deu conta de que estava no quarto que tanto desejou estar, abraçada a sua tímida namorada – que nem era tão tímida assim – na verdade, a timidez de Luciana era apenas mais um traço exótico da complexa personalidade daquela linda mulher, aquela que estava em seus braços e que tanto a irritou no passado, tanto a testou. Renata traçava, naquele momento de paz, a trajetória que ambas traçaram até ali. “Quem diria que estaria aqui, assim, com a pati que conheci há sete anos...”. Sorria por dentro enquanto apertava mais aquela mulher que tanto se transformou e que a conquistou aos poucos... agora percebia o quanto também havia se transformado, ambas se aperfeiçoado para caberem-se uma na outra.
Lu, abraçada por Renata, sentia-se completa... agradecia aos seus ataques de impulsividade, agradecia por tudo o que havia passado até estar ali com sua menina rebelde e sorridente... teria consigo uma alegria ambulante, alguém que a deixava feliz pelo simples fato de estar perto. Teria muito que agradecer a Camila, sua querida cupido, que soube de tudo desde o começo. Beijou a mão que enlaçava a sua. Então Renata percebeu que não era a única que sonhava acordada e beijou o pescoço de Lu que se virou para ela com um sorriso encantador. Seus corpos já davam sinais de vontade.
— O que você disse mesmo antes de me beijar no carro?
— Disse que te amo. – ficaram se olhando durante momentos deliciosamente ternos e eternos. — O que você iria dizer quando te beijei no carro?
— Que te amo.
Beijaram-se mais uma vez, fizeram amor mais uma vez e foram felizes durante a eternidade que um amor pode durar.

ANTES DISSO, NO BAR...

— Para de beijar que preciso falar com você!!! – era Caio furioso puxando Camila pelo braço.
— Seu estúpido! Estou conversando com o cafa... quer dizer... com seu amigo!!!
— Que história é essa de que a Luciana é lésbica? Você sabia e mesmo assim armou para eu ficar com ela?!
Camila suspirou, despediu-se de Cafa e foi com Caio para um canto qualquer do bar onde pudessem conversar sobre a incrível descoberta. Fez cara de tédio e concluiu para si mesma que os meios justificam os fins. Ela nunca havia pedido para ser Cupido, portanto...
Conversaram e no fim ela até conseguiu fazer Caio rir de tudo aquilo e, mais no fim ainda eles gargalhavam de toda aquela história e chegaram a brindar a felicidade das amigas.
No fim mesmo, Camila e Caio ficaram juntos e juntos juntavam alguns casais. Na verdade, Caio não fazia a mínima ideia de que também era Cupido. Esse Destino é mesmo um sacaneador!

FIM.

Capítulo 15: A missão da Cupido

— Por que convidou o Caio?
— Porque estou afim dele...
Renata começou a gargalhar:
— Como nunca me disse isso?!
— Também tenho meus segredos... tente respeitar minha individualidade!
— Desculpa. – Renata sorria em silêncio enquanto manobrava o carro. — Vamos pegar Luciana?
— Sim, falei com ela antes de sairmos.
Pararam em frente ao prédio de Lu e pediram que o zelador interfonasse. Enquanto esperavam, Renata se divertia com Camila.
— Camila, é sério mesmo? Você quer o Caio?
— Qual o problema?
— Bom, nenhum... ele até faz o seu tipo: grande, másculo... mas é que você nunca havia comentado nada...
— Sou tímida.
Estava formado o ápice da gargalhada gostosa de Renata. Não acreditava em como sua amiga podia ser tão cínica. Luciana chegou bem no momento da explosão de riso.
— Nossa, estão bem animadas! – entrou Lu no carro após beijar as amigas. Renata não se continha e mal conseguia falar. Camila lhe dizer, deslavadamente, que era tímida era a maior piada que poderia ouvir nos últimos tempos. Antes que Rê voltasse a si... Camila tomou a frente.
— Estávamos falando de homens... eles são sempre engraçados.
— E qual era a piada?
Quando Renata contaria o que havia acabado de ouvir, Camila a interrompeu:
— Nada de mais, é que Renata hoje está mais idiota que o normal.
Rê a olhou de canto de olho sem entender.
Quando chegaram à tal choperia e estacionaram, Renata puxou Camila de canto:
— Por que Luciana não pode saber?
Camila não tinha pensado numa resposta e vacilou:
— Ah... porque não sei se vai dar certo... e ainda tem a questão de trabalharmos no mesmo lugar...
— Mas a Lu é sua amiga!
Cá fez expressão de impaciente:
— Rê... olha só... depois te explico. – e saiu entrelaçando o braço de Luciana que estava mais adiante.
Só um escorregão de uma cupido aprendiz.

A choperia era bem agradável, nada de diferente, nem especial, mas era agradável. Muitas mesas espalhadas dentro e fora do bar, havia um pequeno palco e o músico era muito bom. A noite estava quente e, consequentemente, o lugar estava cheio. Logo que surgiram ouviram cantadas vindas de todos os lados... as três belas mulheres olhavam ao redor para encontrar Caio que se levantou de uma das mesas onde estavam seu primo... um bonito moreno de expressão carismática e um amigo... um belo loiro de expressão cafajeste.
“Ele pensou em tudo”. – pensou Camila assim que se sentaram. “Um para cada uma... Será uma noite difícil de administrar”. Cupido logo percebeu que Renata e Luciana não haviam gostado muito da surpresa. Camila disse ao telefone que Caio não levaria mais ninguém... mas o tal primo era o dono do bar... “agora já foi”.
As bebidas foram pedidas e a conversa rolava de maneira animada. Os três eram muito bons de papo, eram inteligentes e educados. Camila fez questão de se sentar ao lado do loiro com cara de cafajeste e Renata não entendeu – fez expressão de surpresa, arqueou uma das sobrancelhas, tentou chamar a atenção da amiga, mas, propositalmente, Camila mal olhou para os lados no momento de se sentar. Caio fez o possível – de maneira que não desse na vista – para se sentar próximo de Luciana. Sobrou para Renata o médio empresário que não parava de sorrir e dizer o quanto ela tinha olhos lindos; mas a “pegadora” já não vivia mais seus dias de caça nem de glórias. Conversava com o Primo, mas sem segundas intenções... na verdade estava um pouco tensa porque percebia que a conversa entre Luciana e Caio estava agradável demais e não conseguia escutar sobre o que falavam. “Ah! Imagina! Eles são colegas de trabalho... devem estar conversando sobre coisas da redação...” – pensava sem desgrudar os olhos dos dois – vez ou outra disfarçava e sorria para o sorridente Primo. Camila, por sua vez, divertia-se com o humor inteligente do Cafa, que usava de seu manual de sedução e ela sabia disso, já que também era usuária assídua, conhecedora de todas as lições. Mas, mesmo conversando com o mocinho, não deixava de observar o movimento de olhos entre Renata, Luciana e Caio... cada movimento era detectado e parecia que tudo ia bem até aquele momento. Porém, sabia que logo algo explodiria... ainda mais se a conversa entre os casais continuasse tão animada.

Luciana sempre gostou de conversar com Caio na redação e até chegou a desconfiar de que ele sentia algo mais por ela. Nunca deu crédito a isso porque nunca soube de nada efetivamente, além de não estar interessada. Ali, naquele bar tinha a oportunidade de conhecê-lo melhor e pode constatar que era um cara bem legal, inteligente e engraçado. Ele contava alguns “causos” e acabavam rindo bastante. Ela percebeu que, como a música era alta, as pessoas da mesa haviam se isolado em casais e só aí caiu a ficha. Olhou, imediatamente, para Renata, que conversava com o Primo compenetrada no assunto, fosse ele qual fosse. Ele, vez ou outra, falava muito próximo ao ouvido dela e isso incomodou demais Luciana, que se mexeu na cadeira e decidiu concentrar-se na conversa com Caio, caso contrário, estragaria sua noite e a dos outros.
“O que tanto conversam? Por que tanta risada?” – perguntava-se Renata enquanto observava os dois num papo cada vez mais descontraído... e Caio cada vez mais próximo de Luciana. Quando percebia que o olhar de Lu viria em sua direção desviava-se e voltava à conversa com o Primo... nem sabia mais sobre o que falavam.
“Olha só como eles estão se olhando! O primo do Caio está comendo Renata com os olhos!!!” – indignava-se Luciana enquanto ouvia a voz de Caio longe, às vezes, quase imperceptível. Estava ficando nervosa com aquela situação... não estava preparada para ver Renata beijar outra pessoa em sua frente... ainda não.

De repente, num acesso de fúria interna das duas, os olhares se cruzaram e ambas entenderam que uma pretendia provocar a outra. Interpretações...

Renata resolveu esclarecer uma coisa.
— Vou ao toalete. Camila, pode vir comigo?
Camila se desvencilhou de uma das mãos bobas do Cafa e seguiu a amiga desconfiada. Se tivesse um escudo o usaria para se defender... Percebia a fúria da amiga no modo como andava. “Estou morta!”. Assim que entraram Renata bateu a porta com força e olhou Camila com raiva:
— O que significa isso, Camila?!
— O quê, Rê?!
— Para de cinismo! Não estou achando graça nenhuma. Que história é essa de dizer que está afim do Caio e deixá-lo no maior papo com Luciana? E esses dois caras?? Você disse que só o Caio estaria com a gente! Que merda é essa de querer formar casalzinhos, Camila???
— Calma! – Camila estava em apuros, sentiu que logo seria esmurrada ali. Tentou pensar em algo rápido, mas não conseguiu. — Eu não sabia que o primo dele ficaria na mesa e também não sabia que ele traria outro amigo.
De repente, uma multidão de mulheres com vontade de fazer xixi invadiu o banheiro e Camila respirou aliviada. O Destino mexendo os pauzinhos. Renata a olhou com olhos de ira profunda e disse próximo à amiga – que ela começava a considerar uma traíra.
— O que você pretende com tudo isso, Camila?
— Eu não tenho culpa. – foi só o que disse antes de sair quase correndo para a mesa. “Essa foi por pouco...” – respirou aliviada, porém insegura: “Será que fiz a coisa certa?”

Voltaram para a mesa. Renata já não fazia nenhuma questão de disfarçar seu mau humor... estava de saco cheio de tudo aquilo, aquele teatro ridículo. Primo percebeu que ela voltou diferente e perguntou o que estava acontecendo. Camila, por sua vez, estava tensa, mas algo lhe dizia que agia certo. Precisava tomar uma atitude que juntasse de vez suas amigas ou as separasse de uma vez por todas. O que não dava era para continuar como estavam... duas moscas mortas que não se decidiam, mesmo sabendo que se gostavam. Teve receio de Renata nunca mais falar com ela. A amiga a olhou com uma fúria que nunca havia visto antes naqueles olhos cor-de-mel brilhantes... Quase vacilou e contou seu plano, mas se o fizesse estragaria tudo. Estava nos planos de Camila ver a amiga consumida pelo ciúme, justamente daquela maneira.
Também observava Luciana e podia ver e sentir seu desconforto quando via Primo falar pertinho do ouvido de Renata. Lu parecia querer provocar, mas não tirava os olhos de Renata... não conseguia ouvir absolutamente nada do que Caio dizia sorridente. “Desculpa, amigo, mas você é carta fora do baralho” – pensou Camila e logo voltou sua meia atenção para o Cafa que acariciava sua cintura.
A certa altura da noite, Renata, que já estava prestes a enfartar, viu Caio beijar delicadamente o pescoço de Luciana.
Sem maiores explicações levantou-se dali e disse ao Primo que iria embora. Sem dar tempo de ninguém dizer nada, Renata saiu dali furiosa, cega de ódio... ou melhor, de ciúmes. Tinha vontade de bater em Luciana e naquele jornalistazinho barato e metido a garanhão. “Por que ela faz isso comigo?!!”. Era só o que seu pensamento doído gritava enquanto caminhava a passos brutos em direção ao estacionamento, sem ouvir os chamados de Camila e Primo, atordoados com a atitude dela. De repente, aquela mulher maravilhosa ficou tensa gradativamente até explodir e sair dali deixando todos, ou quase todos, sem entender nada.
Pois é... ela explodiu. Não aguentava mais! “Nunca reprimi o que sentia por ninguém... não posso fazer isso comigo!!!”. Sentia-se fraca, insegura, uma otária de máscara escondendo o amor que sentia... e sentia-se ridícula por aceitar migalhas de Luciana. Para ela, naquele momento, a amizade de Luciana diante de tudo o que ela, Renata, sentia não passava de migalhas.

Luciana também ficou paralisada. Não esperava aquele beijo do nada – claro que não foi do nada, pois Caio dizia coisas em seu ouvido há horas, só que ela não ouvia, apenas sorria para manter contato. Ficou bestificada com a atitude do mocinho e mais ainda com a de Renata, que saiu como um raio... a viu levantar, mas mal pôde vê-la sair... apenas o vulto de seu cabelo loiro... deixando o rastro de seu perfume.
Não sabia o que fazer, ficou numa mesma posição durante minutos, esperando quase sem ar que Camila retornasse do estacionamento. “Meu Deus, o que esse idiota fez?! Ele não tinha que me beijar... eu não deixei!!!”.
— Por que fez isso, Caio?! – perguntou Luciana depois de longos minutos encarando o rapaz com o cenho franzido.
— Fiz o quê? – o jornalista estava no mundo da lua!
— Por que me beijou???
— Como assim? Um beijinho no pescoço... Eu pedi e você deixou!!! – respondeu sem entender nada. Pensou que, talvez, Luciana fosse problemática.
— Não deixei. – quase gritou para que Caio ouvisse em meio àquela música insuportavelmente alta.
— Deixou sim!!! – ele pensava, naquele momento, que talvez ela fosse esquizofrênica.
— Me leva embora! – berrou já pegando a bolsa e caminhando para o estacionamento.
— Lu, desculpa! – melhor não contrariá-la.
— Me leva para casa?! – intimou novamente sem olhar para trás. Não se importava mais em ver Camila... queria ver Renata, dizer que não havia permitido aquele beijo – conscientemente – que queria conversar... pedir desculpas, dizer que a amava.
“Ela saiu daqui daquela maneira quando viu Caio beijar meu pescoço... Acho que ela me ama...”. Pois é... Luciana ainda “achava” que Renata a amava.
No carro apenas Caio falava. Pedia desculpas, mais e mais... não sabia mais formas de se desculpar. Tentava explicar que o beijo era de amizade, que não pretendia ofendê-la... que não sabia que ela era de uma religião que não permitia. No íntimo, pensava que Luciana precisava de tratamento psicológico por ser tão reprimida: “Por isso que nunca a vi com nenhum cara... tão bonita e tão louca!”. Luciana olhava a rua e calculava mentalmente quanto tempo levaria para estar em seu apartamento, pegar seu carro e ir em busca de Renata... “preciso aproveitar esse lapso de impulsividade intensa que corre em mim... não vou perder essa oportunidade – mais essa oportunidade de ser feliz com Renata...”. Escutava Caio dizer algo... algo como “sinto muito”, “não pensei que um beijo no pescoço fosse....” e “não sabia que você era virgem”. Ela não queria entender o que ele dizia... não a interessava.

Renata dirigia com raiva. “Idiota! Vai ter que me ouvir... vou dizer tudo o que tenho vontade, tudo o que está entalado aqui faz um tempão. Depois me liberto, fico livre para ‘pegar’ todas as pessoas charmosas da face da Terra! Quer saber... vou dizer tudo o que tenho vontade e depois beijá-la porque, logo que não vou querer mais a migalha da amizade dela, pelo menos preciso me despedir com louvor daquele beijo!”
Rê sentia todo o seu corpo arder. Tinha vontade de chorar, pois sabia que Lu era seu grande amor e que estava prestes a perdê-lo... mas estava disposta a investir no famoso “tudo ou nada”... se não pudesse ter Luciana inteira para ela não a queria mais como amiga... era torturante demais ver outras pessoas se aproximando dela como se não houvesse um fio de amor que as ligasse.
Chegou.
Estava parada de frente ao prédio de Luciana. “Esperarei ela voltar, direi o que tenho que dizer e vou embora... pra sempre!”.

continua...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Capítulo 14: Quando se finge que nada aconteceu...

“Tudo decidido, nada resolvido.” Essa era a sensação que ambas tinham. Ficou aquela contradição: a cabeça determinou algo que o coração não quis, o velho conflito... guerra fria entre razão e emoção, a luta interior havia começado. Cada uma lutava a sua maneira e com as armas que possuía.
Como são complicados os apaixonados!
Nós sabíamos que elas se gostavam e que desejavam a mesma coisa, mas aí surgiam as interpretações tão pessoais sobre os últimos acontecimentos, as palavras desencontradas, a burocracia que impedia um entendimento pleno. Quem nunca passou por esses tão conhecidos mal-entendidos?
As semanas passavam. Poucos dias depois daquela conversa afastaram-se um pouco, afinal, a paixão dói e quando se torna ferida então, o simples olhar da pessoa amada é como lâmina que corta e arde, sangra e dói. Apaixonados são complicados porque, mesmo doentes, não vivem sem a doença e, apenas se estabeleceram – um pouco, é bom frisar – já estavam se torturando novamente. Encontravam-se, saíam, conversavam, riam revestidas por uma “carapaça” que dizia “estamos ótimas, o que aconteceu foi passado”. Mentira. A Cupido, com seus poderes “extraterrenos” sabia disso.
— Não acredito que vocês duas estão separadas mesmo sabendo que se gostam. – comentou olhando para o céu azul de uma tarde linda. Ela e Renata caminhavam por um parque próximo ao hotel, estavam no horário de almoço do expediente.
— Além de não acreditar em mim, Luciana tem medo... não tenho o poder de tirar com as mãos o medo que ela tem de se relacionar. – argumentava Renata séria, enquanto caminhava com as mãos no bolso de cabeça baixa.
— É... se ela confiasse em você não teria medo... talvez não.
— Eu já sei disso, não precisa ficar me lembrando. O que fiz antes de gostar dela é passado... eu mudei e ela não quer ver. Não acho que ela goste tanto de mim como eu dela.
Cá conhecia a amiga e sabia que o que dizia era sincero.
— Vai desistir?
— Não... por enquanto.
Enquanto isso, Lu corria com matérias, entrevistas, arquivos e internet... e pensamentos, ou melhor, O Pensamento: Renata.
Eu já disse que elas ficaram algum tempo sem se falar. Luciana sentia falta de Renata, de sua alegria, suas gargalhadas. Quando se viram depois da maldita conversa, ficou um clima no ar, de desconforto, embaraço e medo. A Cupido sempre intermediava – se não fosse ela na vida dessas duas... – sempre exalava suas boas vibrações. Mas, mesmo assim, elas, por algum tempo, sentiram-se como há sete anos, quando não se conheciam e não tinham o que falar.
Quando se encontraram num barzinho que Camila disse que era o máximo viram-se diante do embaraço. Porém, se Luciana tinha a eterna dificuldade em elaborar frases complexas em situações tensas, Renata não... pelo menos não tanta dificuldade, mesmo estando diante de sua paixão. Foi a primeira a falar, a olhar nos olhos, a sorrir e, logo depois, gargalhar... sem nenhuma malícia que provavelmente intimidaria Luciana: “Ela é um amor. Ela está sendo um amor.”. Concluiu Lu ao observá-la contar um dos episódios hilários que sempre acontecia no hotel.
Vestiram mesmo máscaras, mas as posições continuaram as mesmas: Lu com máscara de tímida e Rê com máscara de extrovertida. Passaram a conversar sobre assuntos triviais – trabalho, baladas, filmes, shows, teatro. Camila estava no meio de tudo, captando as energias, obviamente. Por enquanto, ela só observava.
Não gostavam de ficar sozinhas por muito tempo... ambas ficavam nervosas e o assunto, repentinamente, terminava e as palavras fugiam... e elas bem que tentavam manter as máscaras. Quando as três estavam juntas, brincavam muito e Rê aproveitava para lançar indiretas e deixar Lu ainda mais vermelha. Já Lu, lançava suas indiretas apenas quando estava bêbada!
Já que estamos no capítulo dos ditados, este é o de Lu: “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.” Em sua mente, moldada desde criança, antes pouco do que nada era um lema de vida, mesmo quando havia exceções... poucas exceções. Em sua cabeça, preferia ter Renata como amiga a tê-la como um caso efêmero e frustrado, que, no fim, não deixaria nem a amizade. Tinha medo de perdê-la, amava-a demais para tê-la por alguns momentos apenas. Por outro lado, seu coração dizia “foda-se”... soprava em seu ouvido que teria que se jogar naquilo seja lá onde fosse dar. Coisas de conflito e guerra fria.
Tudo bem, ela era uma romântica incorrigível!
Preferia sair com ela nos fins de semana, conversar besteiras ao redor de uma mesa de bar acompanhada por Camila. Preferia olhar para ela, sorrir para ela, falar para ela assim, de longe, do que ver o que construíram – com tanto esforço da Cupido – terminar. Doeria se a visse com outra pessoa, não gostava nem de pensar... se bem que notou que já fazia algumas semanas – desde que ambas voltaram de suas respectivas viagens – que ela não beijava ninguém, pelo menos não nas sextas e nos sábados, que eram os dias em que se encontravam. Enfim, poderia ser que ela tivesse mudado, “mas acho que não há como voltar atrás...”.
Lógico que há, Luciana... sempre há como voltar!
Renata estava realmente mudada, isso era nítido. Aceitou o que Lu propôs: amizade. Às vezes, tinha vontade de explodir, gritar que não queria só isso, que não aguentava mais fingir que estava tudo bem e que continuavam a ser grandes amigas. “Foda-se a amizade!” – era o que pensava em seus momentos de fúria, quando o desejo ardia dentro dela e ela só podia extravasar com ela mesma, pensando em Lu, imaginando que aquela mão que percorria o seu corpo era a dela e não a sua.
O Destino gosta mesmo de jogar e utiliza-se de seus discípulos para fazer seu jogo.
Soprou um dia no ouvido da Cupido que ela precisava agir, que não era justo ver suas duas amigas tristes, querendo-se mutuamente e, mesmo assim, separadas. Estava diante de seu computador digitando uma matéria quando parou repentinamente e pensou olhando em direção a Luciana que, concentrada também digitava. “Precisa haver uma maneira de juntar essas dementes!”. Colocou o lápis na boca... pensou, meditou... esboçou uma ideia. Olhou para o lado e viu Caio conversando ao telefone. Lembrou-se de um dia em que ele perguntou se Luciana era comprometida e quando soube que não, interessou-se em conhecê-la melhor, aliás, toda a redação gostaria de “conhecer” Luciana melhor, afinal ela era a musa do jornal. Mas, na ocasião, Camila descartou o possível pretendente porque estava preparando Lu para receber a declaração de Renata – “aí vem a imbecil bêbada e estraga tudo!”. Mas, agora, confabulando com seus deuses interiores, arquitetou um plano.
Levantou-se e foi até a máquina de café. Voltou interpretando um ar de tédio em direção a Caio.
— Não consigo terminar a matéria, acho que meu vocabulário sumiu.
Ele a olhou por cima dos óculos e sorriu... ele tinha um sorriso lindo, moldado por um queixo quadrado e uma barba rala.
— Há dias em que é impossível trabalhar, ainda mais numa sexta-feira em que o sol brilha lá fora. – disse virando-se para ela. Ele era superatencioso.
— É... ainda bem que é sexta. – intensificou seu ar de tédio. — Se bem que eu e a Lu nem temos programa para hoje... já estamos de saco cheio dos mesmos barzinhos.
De repente o rapaz colocou uma das pernas dos óculos na boca pensativo.
— E se saíssemos hoje?
Bingo!
— Ah! Seria legal, né? Mas só se for para um lugar diferente... nada de balada de rato.
— Poderíamos ir à choperia de um primo meu, lá em Pinheiros... muito legal e rola uma música ao vivo...
— Qual é o estilo?
— MPB.
— Mas vamos levar mais uma amiga... a Renata.
— Ótimo. Eu não levarei ninguém, ficarei com as três mulheres lindas pra mim!
Camila riu por dentro.
— Claro. Tá combinado então.
“Mais fácil do que pensei”. Cá sabia da “quedinha” que o homem grande tinha pela amiga e, certamente, achou que seria a oportunidade ideal de “conhecer” Luciana melhor. Camila não sabia direito o que fazia... só pensou que Luciana poderia realmente se interessar por ele – e quase se arrependeu – depois que já havia marcado tudo, inclusive já havia conversado com Renata que topou na hora. A Cupido tinha um plano... que nem ela sabia direito qual era. Ela só fez o que o Sr. Destino pediu.

continua...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Capítulo 13: Corações em sintonia, pensamentos não

Malu ligou para Luciana naquela mesma noite, conversaram um pouco e a mulher sugeriu que saíssem por Curitiba. Lu não queria, ainda ouvia a voz de Renata, lembrava de todo o curto diálogo que tiveram pela manhã e tentava encontrar no tom de voz da amiga algum vestígio da paixão que ela, Luciana, sentia. Sentia-se cansada por pensar, por analisar Renata e a si mesma... tinha medo de que a conversa que teriam acabasse com a amizade que tinham. Medo, muito medo... medo de viver seja lá o que for. “Antes nada disso tivesse acontecido”. Luciana não sabia o que pensava, às vezes.
— Você não está com uma voz muito boa... – comentou Malu com sua voz doce, porém, firme, madura, de mulher decidida. Lu sentiu inveja daquela voz que a transmitia tanta segurança.
— Estou cansada, trabalhei bastante...
— Mas seu tom é de preocupação, não de cansaço...
“Onde ela aprendeu essas coisas?”
— Tá... também estou preocupada com coisas que aconteceram comigo ultimamente.
— Por que não saímos e você me conta?
Lu não estava disposta a ir novamente para a cama de Malu... não achava justo. Não servia para isso. Por melhor que tivesse sido, por mais vontade que aquela mulher lhe dava, não era certo, mesmo que fosse casual ou seja lá o nome que se dá a essas coisas descompromissadas e superficiais. Malu era uma pessoa muito legal... talvez também não fosse justo despejar em cima dela o fato de estar apaixonada por outra mulher.
— E então? – intimou a voz decidida do outro lado da linha.
— Tudo bem. Vamos sair. – respondeu, indecisa, Luciana.

Rê tinha apenas ficado vermelha por conta do pouco sol que pegou. Na verdade, achou a praia meio fraquinha. Engano. A praia era a mesma de sempre, ela é que estava “fraquinha”, diferente, impaciente, não enxergava as pessoas, não sentia o clima do ambiente, achava tudo meio apático, sem atrativos... Por que será?
No fim da tarde arrumou as malas e despediu-se rapidamente dos demais funcionários do hotel. Explicou, mais uma vez, que estava cansada... nada de mais. Sentou-se na poltrona do avião e colocou os fones de ouvido para que ninguém conversasse com ela. Renata, num momento inédito de sua breve existência, encontrava-se antissocial, só queria fechar os olhos e pensar no que diria a Luciana, a pessoa bendita/maldita que agora tirava seu sono. “Vai começar tudo de novo! Essa porra de paixão é mesmo uma merda!” Rê não sabia o que pensava, às vezes.
“Já sei o que direi a ela. Vou me desculpar, dizer que não era minha intenção embaraçá-la, mas é que havia bebido demais e bebida misturada com desejo dá merda! Putz... não posso dizer isso... seria grosseiro, mesmo que seja verdade. Acho melhor declarar meu amor, dizer o que realmente sinto, o que realmente quero... vou dizer que fui precipitada, não soube como agir, mas que eu quero exatamente o que aconteceu. Quero beijá-la, quero fazer amor com ela, mas não por uma noite... quero que isso se torne nossa rotina até onde aguentarmos.” Renata relaxou um pouco enquanto esquematizava discursos, o avião saiu do chão, ela pensava no que faria quando a encontrasse... visualizava seu sorriso, seu rosto vermelho de vergonha, sua feminilidade, sua boca, seu corpo... dormiu.

— Você está mesmo apaixonada por essa garota, não é?
— Acho que sim...
— Por que não diz isso a ela?
— Porque ela nunca se prende a ninguém, é atraída por tudo e todos a todo momento...
— Mas vocês se beijaram...
— É, mas não acho que ela queira mais de mim além de um beijo e uma noite de sexo.
Luciana e Malu conversavam num bar no centro da cidade. Sem perceber Lu havia contado tudo para aquela mulher e surpreendeu-se com isso. Jamais contaria nada sobre sua vida pessoal a uma quase estranha, mesmo que essa quase estranha tivesse dormido com ela. Sempre guardou seus problemas, sempre poupou os outros de sua vida íntima... seu ex-namorado, seus pais, seus amigos... mas no dia da festa Camila – sábia Camila – disse que não se pode resolver tudo sozinha. Agora percebia que não era mais a mesma e sentia-se mais leve por compartilhar. Malu a olhava séria com um cigarro entre os dedos e “analisava” o caso com calma.
— Você não parecia tão indecisa e frágil quando fomos para a minha casa ontem... – comentou Malu sorrindo e a olhando fixamente. Lu corou, obviamente, e baixou os olhos... pensava no que poderia responder sem ser ofensiva ou indelicada. A verdade era que não havia paixão, só atração física; elas, provavelmente, não se viriam mais, não firmaram nenhum laço... situação muito diferente.
— É que me senti segura com você. Já com Renata... qual segurança ela pode me dar se é tão infantil emocionalmente?
— Você precisa ouvir o que ela tem a dizer... pode ser que ela também esteja sentindo o mesmo por você. – Malu tragou forte o cigarro e soprou a fumaça tranquilamente antes de finalizar. — Acho que você deveria relaxar, deixar seus sentimentos virem... não se preocupe tanto, nada é tão importante.
— Como assim?
— Deixe os acontecimentos fluírem, não tente interferir neles com sua racionalidade.
Luciana ainda não sabia se tinha entendido o que ela quis dizer. Precisaria pensar a respeito.
Malu a deixou em frente ao hotel. Ficaram um momento em silêncio e Lu, para não ser mal educada, a convidou para subir.
— Não linda, não quero invadir seus pensamentos. – Malu a abraçou com carinho e a beijou delicadamente, um beijo doce... terno. — Você tem meu telefone, quando precisar me ligue... ficarei por aqui caso queira voltar. – e piscou com malícia. Lu a abraçou novamente e se despediram.
Algumas pessoas surgem em nossa vida para iluminá-la.

— Camila?
— Fez boa viagem?
Era a Cupido na frente do prédio de Renata, encostada no carro fazendo tranças no próprio cabelo. Rê assustou-se ao ver a amiga, mas, em seguida, sentiu que seu porto-seguro estava ali.
— Mais ou menos. Estou péssima amiga... doente de amor.
Camila se aproximou e a abraçou com carinho e as duas subiram para o apartamento sem dizer nada. Quando as luzes foram acesas e as malas jogadas no chão da sala, Renata desmoronou no sofá exausta e Camila foi até a cozinha buscar água. Voltou com dois copos e sentou-se ao lado da amiga.
— Você ainda tem certeza de que quer ficar com Luciana?
— Sim... é a única certeza que tenho.
— Então terá que dizer a verdade... dizer que está apaixonada e tudo o mais que os apaixonados sentem. Chega de ocultar coisas, tem que dizer Rê... vai ser melhor.
— Eu sei. Não vou dar voltas... – aprumou-se no sofá e olhou Camila de maneira triste: — Mas acho que ela não acreditará em mim. Ela vai achar que é mais uma... eu sempre me vangloriando de conquistas, sempre contando detalhadamente meus casos relâmpagos... é claro que ela não acreditará em mim.
— Precisa confiar na amizade que vocês têm... ela confia em você...
— Ela confia na amiga, não numa possível amante...
— Só conversando saberá...
Ficaram em silêncio durante um bom tempo... Rê deitada no colo da amiga que acariciava seu cabelo dourado. Depois tentaram mudar de assunto... sem sucesso. Renata disse que precisava tomar um banho e Camila se ligou que era hora de deixar a amiga sozinha. Despediram-se.

“Nossa! Irreconhecível! Aliás, não... ela já ficou assim quando a Júlia terminou com ela”. Camila entrou no carro pensativa. Doía ver Renata assim... sempre tão alegre, comunicativa, engraçada. “A paixão pode ser tão cruel assim?”. Era quase uma pergunta ingênua da Cupido, que juntava tantos casais, mas que ainda não havia experimentado essa tal paixão de que todos falam e sentem. Uma doença. “Não sei se quero ficar doente...”. Ela não sabia se queria ser ferida pela própria flecha.

Lu ligou a TV, depois ligou o rádio, depois foi para a janela apreciar a vista. Sentiu uma brisa e fechou os olhos. Ficou pensando em como alguns acontecimentos mexem conosco de maneira violenta... ela não conseguia mais pensar em nada, fazer nada, nem assistir a um inútil programa de TV para se distrair. Só pensava no que conversariam amanhã quando chegasse em São Paulo e a olhasse. Tinha medo de fraquejar. Já tinha uma decisão. Fechou a janela e respirou fundo... tomou um comprimido e foi se deitar. Queria apenas que o dia seguinte chegasse, faria sua última visita e entrevista e voltaria para seu lar, para seu ambiente, para o cheiro de Renata.

A CONVERSA

Luciana tinha acabado de tomar banho e sentia-se um pouco melhor. Andava no quarto de um lado para o outro, esfregando as mãos, ensaiando as palavras que sabia que sumiriam assim que visse Renata... deveria ter combinado de encontrá-la num lugar neutro, num lugar onde pudesse ver mais pessoas, num ambiente mais frio e não tão aconchegante quanto sua casa... Tão próximas ficariam de sua cama. Às vezes, pensava em simplesmente ignorar tudo e atirar-se sobre ela... mas, ainda não conseguia deixar de pensar nas consequências... no dia seguinte, no momento em que Renata a deixaria.
Desde quando Luciana era vidente?

A campainha. O susto.
Lu respirou fundo... tentou disfarçar suas mãos trêmulas. Foi até a porta e ficou um instante parada diante dela antes de abri-la.
Rê estava diante dela... olharam-se com intensidade. Muito havia mudado, melhor dizer que haviam se olhado como se fosse a primeira vez. Paixão a milésima vista... de inimigas a apaixonadas. O Destino é mesmo muito irônico. Mexeu seus pauzinhos, colocou a Cupido como encarregada da missão e ela até estava se saindo muito bem, não fosse uma pobre mortal atrapalhada chamada Renata atropelar tudo.
As duas embaraçadas... Luciana saiu da frente para que Renata entrasse sem dizer palavras. Além da dificuldade normal que sentia em formular frases diante de situações tensas, não sabia o que dizer, precisava que a mais extrovertida das duas iniciasse a conversa, formulasse a primeira frase. Quando abriu a porta e deu de cara com aqueles maravilhosos olhos cor-de-mel, sentiu seu coração disparar e seu rosto arder, sentia todo o nervosismo do momento, desejava que nada daquilo estivesse acontecendo e que pudesse abraçar Rê depois de três dias longe de sua alegria. Estava morrendo de saudade e angústia. Queria que tudo aquilo se resolvesse sozinho. Não queria que tudo o que havia construído durante todos esses anos desmoronasse.
Renata ficou diante da porta por um momento... respirou fundo, aprumou-se, passou as mãos pelo cabelo e tocou a campainha. Tentou manter-se calma, mas suas mãos já suavam frio e ela sentia um calor estranho... pela primeira vez sentia tudo isso e não sabia o que fazer. Estava com medo.
Quando viu a porta se abrir e Lu diante de si ficou paralisada, as palavras evaporaram, nem conseguiu perguntar como havia sido a viagem. Seus olhos se encontraram e ficaram fixados uma na outra por instantes mágicos. Ela teve que se controlar muito para não repetir o que fez no dia de seu aniversário – acabava de descobrir que o desejo foi muito maior do que sua embriaguez naquele dia fatídico. Lu saiu de seu caminho fazendo sinal para que entrasse e sentiu seu cheiro, o cheiro daquele apartamento... de cores neutras, frias, porém... aconchegante. Luciana conseguia ser, muitas vezes, contraditória.
— Como foi a viagem? – perguntou finalmente depois daquele silêncio tenso.
— Foi legal. – as frases curtas de Lu... Renata já as conhecia.
— É... eu não aproveitei muito a minha...
Lu pigarreou e apontou para o sofá:
— Sente-se.
Como é estranho quando nos encontramos numa situação embaraçosa com alguém que gostamos muito. Retornam as formalidades:
— Obrigada.
— Quer tomar algo.
“Chega de enrolação!” – pensou Renata já sufocando de angústia.
— Não, Lu... não quero tomar nada. Vim conversar com você sobre o que aconteceu... – parou por um instante para tomar fôlego, mas antes que continuasse, Luciana disse:
— Acho que deveríamos esquecer isso, Rê... – Luciana tinha medo de perder a amizade de Renata ou decepcionar-se de vez com ela, por isso resolveu falar logo. — Entendi que foi um impulso, que nada daquilo deveria ter acontecido... e não quero perder sua amizade...
De repente Renata ficou sem saber o que dizer. Ela já tinha um texto pronto, diria que estava apaixonada e “aí vem Luciana atropelando e finalizando a discussão assim... Não, isso não!”
— Não acho que deveríamos esquecer isso, Lu... aconteceu e temos que esclarecer umas coisas que eu vinha escondendo há tempos. – Rê sentou-se próxima a Luciana e a olhou com carinho. — Não foi exatamente um impulso que me fez vir aqui naquele dia... Foi um sentimento que estava me sufocando, por isso decidi vir... mas fiz tudo errado. – diga logo, Renata: — Lu, estou apaixonada por você! – finalmente, depois de tanto rodeio, disse... disse sorrindo com os olhos brilhando.
— Não sei se isso é uma boa ideia.
O brilho se apagou com o sorriso que o acompanhava. A emoção aflorava com força.
— Por quê? Como assim, Lu? Você não gosta de mim? – várias perguntas, nenhuma resposta porque Luciana não as tinha. Sua desconfiança, assim como Renata previa, vinha à tona... mas Rê ainda guardava esperanças de que as coisas pudessem ser diferentes.
— Gosto de você... mas não posso, não quero me envolver. – Lu só pensava em fugir daquela situação, só pensava em preservar o que já tinham. — Eu conheço você, Renata, não quero acabar com uma amizade por conta de um desejo...
— Não, não... para! Não estou falando de amizade, estou falando que estou apaixonada por você!
— Você sempre está apaixonada por alguém...
— É diferente...
— Não é...
— Como pode falar por mim?!!
— Eu te conheço.
Como dizer algo a alguém que não acredita no que dizemos. Impossível querer provar, fazer com que alguém acredite no que dizemos quando a pessoa já está decidida... por ela e pelo outro. Renata se sentia horrível, péssima, por constatar que Luciana não confiava nela. Estava em frangalhos, não conseguia mais discutir e se rendeu:
— Não quero te perder...
— Então vamos voltar a ser as amigas que sempre fomos... – propôs, ou melhor, impôs Luciana mantendo-se firme... aparentemente. Renata não teve escolha.
— Claro... mas um dia vai acreditar em mim e vou te esperar.
Rê se levantou e saiu deixando a porta do apartamento aberta. Esperou o elevador e, assim que a porta se fechou atrás dela, a “pegadora” chorou. Pela primeira vez não tinha o que queria... e queria tanto, com tanta força que doía absurdamente e ela estava com vontade de sumir.
Luciana finalmente pode tirar a máscara, pode chorar porque não havia mais ninguém ali. Conseguiu dizer o que tinha que dizer... ficou a amizade... talvez não, ainda não sabia. Naquele momento, só sabia que havia medo, medo de viver.

continua...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Capítulo 12: Mais reflexões

Renata foi acordada às 7 da manhã após uma pesada noite de sono. Em outros tempos, certamente teria chegado às 5 após uma noite de farra com seus amigos baianos. Mas tudo indicava que eram outros tempos e a “pegadora” ainda se sentia cansada. Agradeceu à recepção por despertá-la e foi tomar um banho morno. O sol e o calor já despontavam através da janela. Faria parte de uma comissão de auditores na parte da manhã e à tarde teria uma reunião com os diretores da rede de hotéis. Seu momento profissional era maravilhoso, mas não conseguia se sentir feliz. Queria saber como estava Luciana... “por que não me atendeu ontem? Provavelmente viu meu número e ignorou...”. Vestiu-se e foi até a janela olhar o mar... talvez fosse até a praia entre um compromisso e outro. O dia estava fantástico.

Lu acordou às 6. Estava enlaçada por Malu que dormia profundamente. “Preciso ir embora...” – pensou como quem quisesse fugir logo dali antes de se envolver. “Não sirvo para ser pegadora”. Levantou-se com cuidado, vestiu-se e ia saindo quando: “Não posso simplesmente sair... sem ao menos me despedir decentemente...”. Encontrou um bloco de notas, escreveu seu número de celular e “me liga, foi maravilhoso te conhecer. Beijos, Lu.” – é... Luciana não servia mesmo para ser... pegadora.
Pegou um táxi e foi para o hotel. No caminho lembrou-se da noite que passou com Malu... às vezes não se reconhecia: “Só uma louca para ir a uma festa, conhecer alguém e transar no primeiro encontro!” Pois é, ela era louca algumas vezes... demorava a ousar mas quando o fazia caprichava, talvez essa seja uma atitude típica das pessoas aparentemente contidas, ou reprimidas, ou... racionais. Ninguém é cerebral o tempo todo, o mesmo acontece com os emocionais. Interessante... provavelmente a psicanálise explique... ou não. Um sorriso malicioso despontou em seu rosto ao recapitular a noite de sexo que teve com aquela mulher que mal conhecia, sexo casual... “é isso que chamam de sexo casual, não é?”... sua primeira mulher, estava “iniciada”, não era mais virgem. Não teve o pensamento romântico de querer que Renata fosse sua primeira transa homossexual. Acabava de descobrir que talvez não fosse tão romântica assim. Realmente algumas experiências nos mostram muito de nós mesmos.
O motorista parou em frente ao hotel e, já no elevador, tirou o celular da bolsa para ver que horas eram: havia uma ligação não atendida... era de Renata.

Quando, após sensações, impressões, percepções e afins, descobrimos que a paixão nos assolou, tornamo-nos seres instáveis e sensíveis, ficamos 100% atentos a tudo o que acontece com a pessoa amada a fim de alcançá-la por meio de agrados ou atitudes notáveis, para que ela nos enxergue do modo que a enxergamos. Paixão é um troço estranho que nos tira de nós mesmos... perturbação, conflito, angústia, nervosismo, adrenalina. Pode ser uma tortura essa manifestação “química” que nos embriaga, mas esperamos todo o tempo de nossa existência por toda essa manifestação... por uma reação avassaladora. Isso porque somos pobres mortais viciados em paixão. Viver apaixonado é como viver embriagado de sensações aparentemente banais.
Renata viajava de um lado e Luciana do outro. Ambas em lugares diferentes e no mesmo lugar. Uma pensando na outra, no que estavam fazendo, no que pensavam... o sentimento do clima no ar e muita confusão entre elas. O quadro era o seguinte:

RENATA
Sentada numa cadeira de praia, na praia, após a auditoria. Relaxava olhando o mar e pensando em Luciana. “Quem diria que um dia eu estaria assim, completamente de quatro por uma mulher que tanto ignorei... Eu... apaixonada por Luciana. Poucas vezes me senti embaraçada numa situação, mas agora estou. Como olhar para ela depois daquele dia em seu apartamento? Bêbada, totalmente enlouquecida pela vontade de estar com ela, trocando os pés pelas mãos e a intimidando daquela maneira. Logo ela que já é tímida... tão racional. O pior de tudo é que não conversamos a respeito, se ao menos ela soubesse de minhas intenções, mas era Camila quem estava preparando tudo para não assustá-la... aí eu vou e estrago tudo...”. Uma multidão de homens e mulheres charmosos passavam por ela e ela nem piscava... alheia a tudo. Se não estivesse apaixonada certamente enlouqueceria com tanto charme desfilando à sua volta. Essa é a paixão que cega. “Bom, vou entender se ela disser que não quer envolvimento nenhum comigo. Vai doer, mas tenho que respeitá-la... mas não vou desistir, ela precisa perceber, com o tempo, que eu a quero como namorada, não como um caso como tantos que tive e ela foi testemunha. Vou ligar...”.

LUCIANA
“Por que será que ela me ligou? O que iria me dizer?”. Luciana entrou em seu quarto e sentou-se na poltrona que dava para a vista da cidade. Olhava para os prédios ao redor mas não os via porque estava alheia: “Se ela tivesse conversado comigo, dito o que queria talvez eu ficasse com ela, mataria a sua vontade e a minha... apesar de estar apaixonada. Depois de passar uma noite como a que passei ontem entendi que alguns envolvimentos não são necessários... são apenas encontros para o prazer e a satisfação. Era isso o que ela queria... talvez eu desse o que ela queria. Mas chegar daquela maneira... eu não consigo me acostumar com esse tipo de abordagem... ela me deixou completamente sem ação e irritada por não saber o que fazer diante daquela invasão...”. Olhou novamente para o celular e lembrou-se do beijo: “Mas, se eu fosse um pouquinho mais desencanada teria agarrado Renata e a levado para meu quarto. Por que tenho que ser assim, tão metódica? Eu poderia ter feito com Renata o mesmo que fiz ontem com Malu, seduzi-la, mostrar que também posso controlar a situação. Mas... é difícil quando se está diante de uma paixão, diante de alguém que faz minhas pernas tremerem e meu rosto corar quando me toca. Difícil aceitar que seria apenas uma transa quando eu queria acordar todos os dias ao seu lado”.
O celular vibrou em suas mãos. Era Renata.
Instantaneamente Lu começou a tremer, seu coração disparou e sua boca secou. Ficou olhando para o aparelho resolvendo se atenderia ou não. Essa é a adrenalina da paixão.
— Alô! – atendeu com uma voz insegura, mas logo pigarreou para firmá-la.
— Lu? – do outro lado da linha havia uma voz mais treinada... Renata havia pigarreado antes.
— Eu. – Lu tinha dificuldades em organizar frases complexas quando se sentia intimidada.
— É Renata. – bom, pelo visto, Renata também tinha o mesmo problema.
— Eu sei. – alguém precisava sair do óbvio.
Rê pigarreou:
— Bom, é... Lu, preciso falar com você... – Renata tinha pensado em tudo antes mas, de repente, surgiu uma imensa borracha que apagou as frases feitas em sua mente... sem contar que seu coração estava na boca, impedindo-a de falar. — Eu sei que poderia esperar chegarmos em São Paulo, mas... eu queria saber se quando chegarmos poderemos conversar... para que eu possa me desculpar por aquilo... – já está de bom tamanho, Renata... seu esforço em emitir uma frase complexa foi surpreendente.
— Tá... poderemos conversar sim. – Luciana não obteve o mesmo sucesso... seu coração a estava sufocando.
— Que dia você estará de volta?
— Amanhã.
— Eu voltarei hoje. – silêncio. Nenhuma das duas suportava mais. — Então amanhã à noite te ligo.
— Tá.
— Tchau.
— Tchau.
Ambas desligaram, fecharam os olhos e respiraram fundo. Naquele momento perceberam o poder que a paixão exercia sobre elas. O sentimento era o mesmo... só precisavam saber se iriam se entender.

continua...