quinta-feira, 26 de maio de 2011

AMOR E ÓDIO: FACES DE UMA MESMA MOEDA

Capítulo 5: O retorno da Cupido

Seis anos depois – dias atuais

“Camila vai voltar!!! Deus do céu, minha amiga voltará depois de quase seis anos... estou em estado de graça! Ela pediu para eu ir ao aeroporto e seu pedido é uma ordem. Só preciso que me dispensem mais cedo... é um caso de vida ou morte... preciso vê-la.”

Quando Renata soube que Camila já estava dentro de um avião a caminho de seu país natal ficou em completo êxtase. Estava morta de saudades... Claro que ela tinha uma infinidade de amigos, mas, amiga amiga, de verdadeira, só Camila. Foram seis anos de muuuuitos acontecimentos e não via a hora de recontar tudo olhando nos olhos da Cupido, observando suas expressões e a ouvindo dizer “essas energias são horríveis”, “acho que a energia de vocês têm tudo a ver!”. Agora ela achava graça, mas Camila sempre a irritou com essa história de transcendência. Será que sua amiga-energia era uma extraterrestre? Sorria pensativa, lembrando-se dos melhores momentos que já passou com a “ET”.
O dia foi difícil no hotel e, às vezes, aquele uniforme a incomodava... estava quente e ela estava ansiosa. Pediu a dispensa, disse que sua amiga estava retornando de uma longa viagem por conta da doença da tia-avó e não havia ninguém para ir buscá-la no aeroporto. Claro que não precisava de todo o drama, mas ela quis se garantir. Correu até o vestiário e tirou o uniforme rapidamente... o velho jeans, tênis e camiseta eram muito mais a sua cara e a cara da amiga que estava chegando. “Menos de três horas...”

“Que maravilhoso rever minha amiga depois de tanto tempo... mal posso esperar!” – pensou Luciana enquanto lia uma de suas matérias na tela do computador. Não conseguia se concentrar por mais que tentasse. Camila ligou há dois dias dizendo que estava voltando definitivamente, com diplomas debaixo do braço a fim de continuar a carreira deslumbrante que iniciou lá fora. Disse que não aguentava a saudade que sentia de todos e que nenhuma estabilidade pagaria a falta que os amigos e a família faz. Pediu que a fosse esperar no aeroporto, queria vê-la, saber se tudo o que havia acontecido com ela era mesmo verdade porque ainda custava a acreditar.
Era verdade. E muito Luciana dedicava à Camila, amiga de todos os momentos, mesmo quando não tinha tempo. As broncas, os berros ao telefone fizeram com que ela acordasse para uma vida nova e muito melhor do que a que tinha... presa em uma redoma.
Desligou o computador, pegou sua bolsa e explicou a situação para seu editor chefe. Saiu tranquilamente para o estacionamento, pegou seu carro e seguiu para o aeroporto. “Menos de duas horas...”

O aeroporto, claro, estava cheio. Pessoas de todos os lugares do mundo, de todos os tipos, espécies e afins. Uma torre de babel. Luciana olhou os horários de chegada dos vôos e continuou andando calmamente... ainda havia tempo, poderia observar as pessoas com mais calma. Estava acostumada com aquele ambiente. Quantas vezes não esteve ali embarcando para algum país do globo ou estado brasileiro. “Eu queria voltar a todos os lugares em que fui com a cabeça que tenho hoje, certamente aproveitaria bem mais...” – refletia enquanto se dirigia a um lugar para sentar.
Renata chegou esbaforida, pensando estar atrasada, mas não estava. Prendeu o cabelo e foi até a área de desembarque. Lá encontrou os pais de Camila... ela já os conhecia e foi muito agradável conversar com eles depois de tanto tempo. Encontrou mais alguns amigos em comum e tentava controlar a ansiedade mascando chiclete, já que não podia fumar ali. Rê conhecia de cor e salteado aquele aeroporto por conta de suas viagens de trabalho. “Mas um dia sairei do país... quem sabe Camila não me mostra a Inglaterra!” – pensou quando ouviu que o avião que continha um ser cheio de ótimas energias havia acabado de pousar.
Luciana se aproximava da área de desembarque e já via alguns dos seus amigos; Renata jogou o chiclete fora e foi para junto dos pais de Camila. Um por um os passageiros foram surgindo sorridentes a procura de quem os esperava. Depois de alguns minutos o ser energizado apareceu sorridente vestida numa blusinha com as cores do Brasil. Estava linda! Um pouco diferente, com o cabelo maior – fez luzes! Camila nunca ligou para isso – estava com óculos de grau preso na cabeça, um livro debaixo do braço e um olhar iluminado, que sorria com sua alegria natural. Uma mulher, não mais uma jovem pós-adolescente. Estava radiante por reencontrar seus pais e seus amigos. 28 anos de pura felicidade!
Ela se jogou no colo do pai e ficou horas beijando a mãe. Foi nesse instante de intimidade familiar que Renata reviu Luciana e Luciana reviu Renata após tanto tempo. Elas estavam em lados opostos e o reencontro de olhares foi inevitável. Renata sorriu amarelo e a cumprimentou com um discreto aceno de cabeça... Lu, por sua vez, apenas deu um meio-sorriso. Logo Rê foi atropelada pela amiga que a amassava de todas as formas... as duas se abraçavam e sorriam, palavras eram totalmente desnecessárias naquele momento porque o contato físico dizia muito mais: Camila estava com o rosto lavado de lágrimas e Renata não cabia em si de uma alegria imensa. Lu observava de longe esperando sua vez, estendeu a mão aos pais da amiga recém-chegada e sentia uma certa inveja da afinidade que existia entre Camila e aquela garota antipática que conheceu há uns seis anos. Não conseguia entender aquela amizade. As duas tão diferentes...
Chegou sua vez. Camila se conteve mais, afinal de contas, Lu era delicada, sensível... tinha que ir com mais calma. Mas como adorava Luciana... como admirava aquela mulher que há algum tempo era apenas um fantoche nas mãos da “sociedade de elite”. Agora ela começava a viver e Camila se sentia muito feliz em saber e, naquele momento, poder ver com seus próprios olhos que a amiga estava ótima... linda! Mas não era uma beleza produzida... era uma beleza natural, verdadeira e simples.
Renata observava o abraço demorado e carinhoso entre as duas e não conseguia entender: “Como Camila pode ser tão amiga de uma pati como ela?”

Depois de cumprimentar os demais amigos que estavam ali, Camila puxou Luciana pela mão e foi em direção a Renata.
— Rê, lembra da Lu?! Vocês já se conhecem...
Renata olhou para Luciana e, talvez, as duas tenham pensado a mesma coisa.
— Sim, eu me lembro... Faz tempo...
— Então... – Camila fez uma pequena pausa para ouvir o que seu pai dizia e, nesse instante, Renata e Luciana apenas se olharam, sem saber o que dizer. — Então... minha mãe preparou um jantar e queria muito que vocês fossem. – e olhou para Lu que se sentiu na obrigação de dar uma resposta imediata:
— Tá, por mim será ótimo!
Camila virou-se para Renata que respondeu:
— Legal... vou também.
E as três saíram de mãos dadas – Camila no meio, é claro – ao lado dos pais da recém-chegada.

Capítulo 6: O tempo passa e as pessoas mudam

O jantar transcorreu muito bem, sem incidentes. Talvez o sucesso tenha se dado pelo fato de não haver mais pós-adolescentes-hormoniosos em torno da mesa e sim homens e mulheres em torno dos trinta anos dispostos a se mostrar comportados e “maduros”.
Camila desdobrava-se para dar atenção a todos, como sempre era toda sorriso e “causos”... amigos faziam roda em torno da Cupido para que ela relatasse momentos tensos e hilários de sua estada no país da rainha mãe. Renata e Luciana já conheciam aquelas histórias e, vez ou outra, se desligavam de toda aquela agitação. Talvez, por falta do que fazer, ambas passaram a se observar com curiosidade... cada uma submersa em suas impressões a respeito da outra. Elas não entendiam por que Camila mantinha uma amizade tão estreita com cada uma delas e, elas mesmas, não se conheciam, ou melhor, se conheciam e se odiavam.

“Está mais bonita... mais comedida... parece não desejar chamar mais tanto a atenção. Ainda nem deu uma daquelas suas gargalhadas espalhafatosas... Mas continua querendo mostrar que é muito social, conversa com todos mesmo sem ter o que dizer. Mas, sem dúvida está mais calma... Será que continua galinha?” – refletiu Luciana sobre Renata enquanto a observava sentada na sacada do prédio tomando uma taça de vinho... sozinha.

“Não usa mais aqueles penduricalhos de pati... nem faz questão de estampar a grife da calça. Está mais simples, humilde. E aquele Namorado? Não veio com ele... Está mais sorridente, mais simpática... parece mais determinada. Mas continua com aquele arzinho esnobe, que olha os outros de cima. Isola-se fácil, mas também... quem vai se aproximar se ela não baixar a guarda?! Está um pouco humilde, mas nem tanto...” – pensava Renata enquanto olhava para Luciana que sorria ao ouvir as histórias loucas da amiga.

Camila jantou, bebeu... abraçou todo mundo mais de uma vez, ganhou presentes, beijos dos pais, atendeu telefonemas, nem sentiu o cansaço da viagem. Os amigos, gentis, reconheceram que ela pudesse estar exausta e foram saindo. Ficaram Renata e Luciana e, esta, quando percebeu, resolveu ser educada e também se retirar. Deixaria que as duas amigas colocassem as novidades em dia. Levantou-se e quando se preparava para se despedir, Camila chegou puxando Renata pela mão:
— Meninas, trouxe uma coisinha pra vocês! – disse sorridente abrindo a mala. Renata sentou no sofá e Luciana não teve outra opção: sentou-se ao lado da amiga da amiga. A Cupido tirou duas caixas de presente, uma continha livros sobre Turismo para Renata e a outra CDs de jazz para Luciana. Elas agradeceram com brilho nos olhos e vislumbravam como crianças seus presentes quando o pai de Camila lhe passou o telefone dizendo que era seu avô quem estava na linha. — Só um minuto, meninas.
As duas ficaram sozinhas e, de repente, um embaraço tomou conta do ambiente, não sabiam o que dizer. Até Renata, sempre tão expansiva, viu-se intimidada diante da garota pela qual não nutria uma grande simpatia e que um dia lhe chamou de vulgar. Luciana, do seu lado, já era um pouco tímida e, sem saber explicar, sentia-se constrangida diante daquela mulher que sempre tirava de letra todas as situações... dizia e fazia o que queria e...
— Você gosta de jazz? – foi uma pergunta cretina, mas a única capaz de salvá-las daquela tensão. Renata perguntou a tal pergunta cretina olhando para Luciana com um sorriso nos lábios, que ainda não sabia se era sincero ou não... ela só pensava em quebrar o gelo.
Lu a correspondeu no olhar e no sorriso.
— Sim, adoro! Quando eu e Camila conversávamos, sempre indicava a ela alguns lugares onde tocavam jazz e ela acabou gostando do estilo...
— Que legal...
“Agora é a sua vez.” – pensou Renata assim que morreu a primeira tentativa de conversa. Ela não poderia prosseguir já que não conhecia jazz.
“Agora é a minha vez.” – pensou Luciana assim que percebeu que o assunto não tinha vingado.
— E você? Pelo que posso ver gosta de fotografia... – e apontou para os livros no colo de Renata, que agora sorriu sinceramente.
— Também gosto de fotos, mas cursei Turismo e tudo relacionado a isso me interessa muito... – respondeu olhando-a nos olhos. — Você parece ser uma pessoa viajada... talvez conheça todos esses lugares.
Lu sorriu, sinceramente, e pediu para olhar os livros e as fotos que ilustravam a descrição de alguns países e cidades da Europa. Folheou com cuidado e comentava a respeito de algumas cidades por onde já havia passado. Renata aproximou-se mais de Luciana e ambas estavam debruçadas sobre os livros... conversando.
Camila, ao desligar o telefone, viu de longe o papo animado no qual as duas amigas embarcaram e resolveu deixá-las sozinhas... para que pudessem se conhecer melhor.

— Nossa! Não acredito que já esteve na Grécia! É meu sonho ir para lá...
— Fui, mas não tinha noção da grandiosidade que a história do país representa para nós, do ocidente. Se eu fosse hoje, certamente aproveitaria mais...
— Mas você pode ir quando quiser! Seu pai não é o Armando Luís Fonseca?
Luciana sorriu entendendo a insinuação:
— Sim, esse é meu pai. Mas não dependo mais do dinheiro dele... se eu quiser ir terei que economizar uma boa grana.
Renata ficou alguns segundo olhando para Luciana, que correspondeu firme àquele olhar interrogativo... mas Rê não quis entrar em detalhes.
Camila, depois de meia-hora voltou para a sala e as três conversaram descontraidamente, de maneira que nunca fizeram. Luciana e Renata estavam, finalmente, desarmadas.

No dia seguinte, Camila e Renata haviam combinado de se encontrar para colocarem o papo em dia. Foram a um bar no centro da cidade e falaram sem pressa, saboreando o momento do reencontro, da volta à antiga amizade. Falaram amenidades, besteiras... riram, ficaram sérias... até que a Cupido arriscou:
— O que achou da Lu agora? – perguntou repentinamente e sentiu que Renata esperava por essa pergunta.
— Acho que ela mudou nesses anos que passaram. Ela me disse que não depende mais do dinheiro do pai e isso me surpreendeu... Mas, depois, cheguei à conclusão de que o marido deve bancar as vontades dela.
— Ela não é casada.
— Não??? – Rê franziu a testa e tomou mais um pouco do chope. — E o Namorado sem nome?
— Ela se ligou que o cara era um otário e que não tinha nada a ver com ela. – respondeu Camila beliscando os petiscos tranquilamente e olhando o movimento na rua. Renata queria mais, queria saber mais, mas resolveu se conter. — Ela passou por uma má fase, péssima aliás... assim como você e, assim como você, ela cresceu bastante... não é mais aquela pati de antes.
— Será que não?
— Bom, eu te digo que não... mas seria legal se você mesma descobrisse.
— Como assim?
— Pô, Rê... seria demais se vocês se dessem bem, né? Vocês são minhas melhores amigas! Não vou conseguir ficar me dividindo para que vocês não se encontrem!
— Ela me chamou de vulgar.
Camila começou a gargalhar:
— Garota, ela te chamou de vulgar há seis anos...

Na mesma noite, Luciana foi até a casa de Camila conversar. Sabia que a amiga recém-chegada já estava a procura de emprego e Lu conseguiu que ela conversasse com seu editor chefe. Nada garantido, mas já era um ótimo sinal.
Falaram muito sobre a profissão, Camila contou suas experiências como estagiária de jornais estrangeiros e Lu contou sua saga até chegar ao posto que havia conquistado há pouco tempo. Camila conhecia suas amigas e sabia que Luciana era completamente diferente de Renata, mas conseguia enxergar que as duas se completavam: Luciana era racional, ponderada, usava sempre de bom senso; Renata era emocional, explosiva, ansiosa... via nitidamente que Lu precisava de mais emoção naquela vida certinha e tão regrada; já a outra necessitava de um pouco de pé-no-chão, de razão para organizar as coisas. Se elas fossem amigas seria perfeito... seriam as três melhores amigas e toda a ótima energia contribuiria para o sucesso delas. Camila não poderia ficar indo de uma a outra... o ideal seria juntar as duas.
Viajou nessa constatação enquanto Luciana falava, falava...
— Cá, está me ouvindo?
— Opa! Sim... quer dizer... mais ou menos... – pensou rapidamente e: — É que eu estava pensando no que a Rê falou sobre você...
A reação foi imediata e Camila riu por dentro. Luciana logo se aprumou entre as almofadas do quarto da amiga e perguntou:
— O que ela falou sobre mim?
— Disse que você parece bem melhor do que há seis anos...
— Como assim?
— Que você está muito melhor sendo independente...
— Ahhh...
Lu ficou um instante em silêncio, de cabeça baixa, folheando um livro. Camila esperava pacientemente em silêncio por uma próxima declaração da amiga tímida, pois sabia que dali ainda sairia alguma coisa.
— Ela também está bem melhor...
Camila sorriu. Sabia que seu plano funcionaria.

continua...

AMOR E ÓDIO: FACES DE UMA MESMA MOEDA

Capítulo 4: A distância e o tempo

— Acho sua amiga pati uma insuportável! – esbravejava Renata na casa de Camila após o almoço. — Que metida! Quem ela pensa que é pra dizer que sou vulgar... minha vontade era enfiar a mão na cara dela naquele dia na festa...
Camila lia um livro de poemas deitada no carpete do seu quarto. Melhor não interromper a amiga em seu momento de fúria... era bom colocar para fora energias negativas para depois reenergizar.
— Está me ouvindo?
— Sim.
— Então diz alguma coisa!
A Menina Energia fechou o livro calmamente e olhou tranquilamente para Renata.
— Acho que as energias de vocês não vibraram.
— Ah! Para com essa conversa chata de energia... – Renata estava impaciente naquele dia. Deveria ser TPM. Camila resolveu mudar de assunto.
— E a morena? Te ligou? – percebeu que a fisionomia da amiga se transformou... iluminou-se toda.
— Ligou, menina! Marcamos de nos encontrar amanhã à noite. O nome dela é Júlia... linda a Júlia. Ela é divertida, sempre bem-humorada, gosta de bater-papo, beber... tem cada história! – Camila observou o modo como Renata se referia à nova “amiga” e, como cupido que era – mesmo sem ter consciência disso –, logo notou:
— Você está apaixonada!!! – Renata tomou um susto e levantou-se como quem queria fugir.
— Quê?! Tá louca, Camila?! Lógico que não... imagina...
— Sei...

Dias depois, no lado oposto

— Sua amiga pegadora adora me provocar! Consegue tornar o ambiente insuportável com aquele jeito de não-estou-nem-aí...
Camila estava na casa de Luciana imprimindo um trabalho que fizeram juntas. Virava as páginas calmamente a fim de deixar a amiga exorcizar sua indignação.
— Está me ouvindo?
— Sim.
— Então, o que acha?
— Acho que vocês têm uma implicância interessante...
— O que quer dizer isso?
— Ainda não sei...
Luciana ficou calada pensando nas palavras de Camila. A amiga, às vezes, dizia coisas pela metade... parecia que pensava alto. Isso a irritava, mas, antes que expusesse uma possível irritação, Camila perguntou:
— E o seu namorado?
— Vai bem.

Divagações de um Cupido

“Nossa! Que ânimo ao falar do tal Namorado... aquele com quem ela namora há cinco anos. O casal modelo que desfila sempre sorridente e amável. O que acontece com o casal modelo na intimidade?” – Camila pensava enquanto ia para casa. Andava pelas ruas sem pressa, observando o movimento, pensando... “E a Rê... nitidamente apaixonada por uma mulher que mal conhece... e tentando fugir de seus sentimentos, batendo o pé e dizendo na minha cara que não está apaixonada coisíssima nenhuma. Prefere continuar alimentando relacionamentos relâmpagos e vazios. Essas minhas amigas...” – Como já disse, Camila era conhecida como “cupido” porque já havia juntado vários amigos... também já foi dito que ela era muito querida por todos e se relacionava muito bem. O Destino a colocou como cupido, a intermediária do amor – lindo! – mas ela mesma não tinha consciência disso... ela possuía o dom de unir as pessoas mas não sabia, foi apenas enviada para essa missão. Mas, cupidos também precisam cuidar da vida, não é verdade? E ela já estava cuidando da sua.


A distância

E cuidou. Camila cuidou de sua vida. Terminou a faculdade e decidiu que queria fazer pós fora do Brasil. Decidiu que queria entender as relações internacionais – essas relações sempre tão estressantes... desejava levar um pouco de boas energias ao mundo –, arrumou as malas e preparou as coisas lá longe, na Inglaterra. Há algum tempo ela vinha pensando em se dedicar seriamente à profissão. As grandes baladas terminariam, afinal de contas, já não era mais uma adolescente. A cupido embarcou e deixou para trás suas amigas opostas: Luciana e Renata. Não havia mais um elo entre as duas... o elo/cupido partiu para a Inglaterra. Que cupido irresponsável!

O tempo

O Tempo. Responsável pelo caminho que traçamos, caminhamos pelo caminho e o Tempo nos coloca obstáculos e nos proporciona conquistas. O Tempo é mocinho e vilão. Há sempre uma luta entre o Tempo e os seres concretos, concretos assim como Nós.
O Tempo, impiedoso, agiu sobre nós durante seis anos e, claro que Luciana e Renata não escaparam das ações impiedosas Dele. O Tempo melhor amigo e pior inimigo.

Luciana

Lu mudou. Seis anos mudam a vida de qualquer um que pretenda algo, que não tenha medo de correr atrás, mesmo que não se saiba do quê. Mas, às vezes, acontecem fatos que nos obrigam a mudar... foi assim que Luciana mudou.
Logo depois que ela e Camila terminaram a faculdade e a amiga foi morar na Inglaterra, Luciana achou que seria hora de se casar, afinal, ela seguia a “ordem” cronológica dos acontecimentos decorrentes na vida de uma mulher tradicional. Era hora de se casar, já que agora tinha um diploma nas mãos e poderia ser jornalista da Caras. Conversou com o Namorado e decidiram, sem muito entusiasmo, que já era mesmo hora de dar um passo adiante.
Noivaram em grande estilo e marcaram a data do casamento para dali a três meses. Enquanto isso ela preparava o enxoval e ele... sumia. O Namorado tomava chá de sumiço e Luciana ficava cada vez mais intrigada, mas não poderia comentar com seus pais, pois diriam que era “coisa” da cabeça desocupada dela; não tinha mais Camila para confidenciar... mas, na verdade, nunca confidenciava... seus pais sempre a ensinaram a não dividir com outras pessoas problemas particulares.
Um dia um sopro de ousadia acometeu a intrigada noiva que ousou pegar seu carro e ir atrás do Namorado a fim de sanar suas desconfianças. Esperou na frente do escritório por algumas horas. Quando ele saiu ela o seguiu e uma sensação de aventura tomou conta da tão comedida Luciana... “isso é bom!” – ela pensava... engatinhando seus primeiros passos sozinha. Viu quando ele parou diante de um prédio luxuoso e viu também quando, depois de alguns minutos, uma bela mulher entrou em seu carro e partiram – se ela enxergava bem, aquela mulher era uma de suas amigas fúteis. Luciana, mais feliz pela aventura do que decepcionada com o Namorado, continuou sua perseguição até um motel do centro da cidade. Ela desligou o carro e ficou ali, encostada no banco... sem chão. Seu único objetivo de vida até o momento era o casamento... agora nem isso ela tinha.
Ela esperou o momento adequado para romper com o Namorado. Trancou-se com ele num lugar bem discreto e gritou... ela nunca havia perdido a compostura, mas desceu do salto e o chamou de “cachorro-filho-da-puta”! Ele a olhou desconcertado, jamais imaginaria que sua futura esposa era uma desequilibrada... Ela xingou a sua mãe!!! Se fez de vítima, disse que não havia feito nada de mais e que, na realidade, a amava e que as outras eram apenas diversão. Luciana jogou o cinzeiro na cabeça do Namorado, que, a partir daquele momento, era ex-Namorado. Ele foi embora lhe prometendo uma camisa de força e ela se jogou na cama aos prantos, indignada por ter sido traída há mais de três anos. Chorou, chorou... esvaiu-se em lágrimas e ficou quieta pensando em algo, qualquer coisa. O que fazer? Por onde recomeçar?
Foi recriminada pelos pais e eles também acharam que a menina dos olhos deles estava enlouquecendo. Não... não... Luciana estava crescendo, ainda engatinhava sozinha. Luciana começou a enxergar, ver que se encontrava presa numa redoma, que parecia uma boneca de porcelana, sempre bem vestida, sempre sorridente para os outros poderem apreciá-la, como se estivesse exposta numa vitrine. Sentiu-se usada, manipulada... um nada, apenas um objeto apreciativo. Ela tentava mostrar isso para seus pais e para seus amigos mais próximos, mas eles não enxergavam nada que estivesse diante do nariz... olhavam apenas para seu próprio eixo. Se Camila estivesse por perto a entenderia. Lembrou-se de uma frase da amiga: “Lu, na boa... você é grudada demais no seu namorado. Sua vida não tem que girar em torno dele.” Camila, sua guru! Mas ela não estava lá... ligou para ela e conversaram... Camila ficou felicíssima pelas atitudes de Luciana, a incentivou, a apoiou... mas estava tão longe. Correspondiam-se por meio de e-mails enooormes, mas nem sempre Camila tinha tempo, aliás, ela quase nunca tinha tempo. Lu ficou triste, cercada por pessoas fúteis, vazias... e ela queria tanto aprender fora daquele mundo que foi seu por 26 anos. Entrou em depressão.
Fechou-se, dormia 15h por dia... quase não comia. Passava horas no quarto, lia, escrevia... pensava. Foi obrigada a ir ao médico, tomar remédios. Camila ligou meses depois porque percebeu que as mensagens de e-mail cessaram e descobriu o estado da amiga. Brigou com ela, esperneou no aparelho, exigiu que a amiga reagisse, que tinha que andar com as próprias pernas e parar de se sentir coitada! “Luciana, para de frescura!!! Você não pode desistir justo agora que sua vida tá dando uma guinada!!! Venha para cá... vamos morar juntas, vamos passar fome juntas aqui!!!” e Luciana voltou a rir... Camila era sensacional! Decidiu que não iria para a Inglaterra... teria que passar por tudo aquilo sozinha. Decidiu procurar um emprego. Não foi até a Caras, foi até um jornal de bairro e ofereceu seus serviços, não exigiu remuneração, apenas a oportunidade de aprender a profissão na prática. E aprendeu.
Quase um ano depois estava trabalhando num jornal de porte médio como jornalista do caderno de cultura e, como passou a ganhar seu próprio dinheiro, resolveu ter seu próprio apartamento. Mais uma crise em casa, pais horrorizados. Luciana acabava de assinar o atestado de ovelha negra da família. Brigou – estava ficando boa nisso –, deixou claro que não assumiria as empresas do pai, que não gostava da vida que levava e decidiu mudar. Alugou um pequeno apartamento próximo ao trabalho e assim Luciana já caminhava sozinha.
Fez pós e, aos 29 anos, já possuía uma ótima colocação no jornal. Fez novos amigos, frequentava festas, gargalhava e falava alto... E como gostava de tudo isso! Como era boa a vida fora da redoma! Quanto tempo havia perdido. Não sentia falta de um namorado... teve um por mais de cinco anos e, definitivamente, não sentia falta... nunca se sentiu estimulada em assumir um outro compromisso porque ficou marcado nela um namoro frio, sem atrativos, acomodado... a vida tinha tanto a lhe oferecer... Não pensava em relacionamentos sérios, mas tinha seus casinhos rápidos e isso a deixava em êxtase. Imagina se Luciana pensaria em “casinhos” há cinco anos! Nem pensar!
Luciana mudou muito. O Tempo pode mesmo ser seu melhor amigo.

Renata

Renata, a senhora não-se-apaixone-por-mim, estava de quatro por Júlia. Como ela mesma disse um dia: “Tudo tem sua primeira vez, não é?” – pois é... Renata provou da paixão, aquele preparado químico que cega as pessoas e faz com que se tornem volúveis, meio que desligadas do planeta Terra.
Após aquele encontro quente entre Renata e sua iniciadora no mundo das entendidas, encontraram-se mais algumas vezes até que a iniciada percebeu-se incontrolavelmente seduzida e disposta a tudo para ficar com Júlia. Júlia estava... digamos... empolgada com Renata, afinal sua aluna era extremamente aplicada e uma delícia; certamente, Júlia também havia aprendido muito durante aquele estágio. As duas resolveram namorar e no começo tudo foi lindo: um ano de altas emoções sexuais em lugares diversos, um ano de divertidas bebedeiras e festas longe de casa, um ano de cinema, teatro, confidências... um ano de cama e fidelidade. Bom, fidelidade, por incrível que pareça, por parte de Renata... porque Júlia não era tããããooo fiel assim. Renata decidiu fazer faculdade... queria estar no mesmo nível que a namorada, que terminava o curso de Hotelaria. Rê entrou no curso de Turismo porque sonharam montar uma pousada em Maresias. Ainda bem que a Apaixonada se identificou com o curso e o concluiu mesmo quando levou um pé de Júlia.
Foi num fim de semana. Júlia estava distante há meses e Renata cobrava atenção e cobrava e cobrava... até que Júlia disse que não estava mais a fim. Rê ficou estática, parada no meio da sala com um cigarro queimando entre os dedos: “Como assim?” – ela não entendia, não compreendia que o amor da sua vida estava dizendo que não a amava, que havia sido legal o tempo que passaram juntas mas... infelizmente. “Como assim?” – “Assim, Renata: acabou!”. Júlia saiu e Renata ficou. As duas dividiam o apartamento, depois cada uma voltou para a casa de seus pais. Ela não acreditava... ainda tentou, pediu que Júlia ponderasse, mas não adiantou. Ficou mal, muuuito mal. Camila um dia ligou para ela e descobriu o rompimento. Renata falava pausadamente, como quem ainda estava em estado de choque. Camila ouvia e evitava falar sobre energias, trocavam e-mails enormes, mas Renata, às vezes, sumia... aí Camila ficava preocupada e ligava. Renata estava deprimida. “Puta que pariu! Agora que descobriram a depressão todo mundo quer ficar deprimido?!” – esperneava a amiga inglesa ao telefone enquanto Renata chorava. “Rê, você nunca se entregou! Por favor, volte a beijar bocas e descubra outra paixão!!! Vem pra cá, vamos juntas aos shows daqui... se você quiser posso até beijar uma garota!!!” – Renata riu depois de meses chorando. Camila era mesmo fantástica. Resolveu reagir.
Terminou a faculdade e, como já era estagiária num hotel, conseguiu efetivação e vez ou outra era convocada pelas filiais desse hotel em outros estados do Brasil. Foi nessas viagens que voltou a “pegar” todos e todas e, agora, em rede nacional.
Alugou um apartamento, comprou um carro e tornou-se completamente independente. Era um orgulho para ela, aos 28 anos, estar estabilizada financeiramente. Bom, amorosamente, não estava estabilizada nem desestabilizada... apenas não estava. Voltou a curtir as baladas, mas sem envolvimentos, talvez tenha se tornado um pouco fria depois de tudo o que passou quando amou de verdade... sentia medo do amor porque sua única experiência mostrou que ele machuca muito e ela gostava de estar bem, feliz.

continua...

AMOR E ÓDIO: FACES DE UMA MESMA MOEDA

Capítulo 2: Cara e Coroa

Luciana

Luciana saiu furiosa do bar. Noite perdida. Poderiam ter ido jantar num lugar mais calmo, poderiam conversar sobre as viagens que fizeram, sobre a faculdade, sobre o futuro. Era uma mulher que pensava muito no futuro, tanto que esquecia do presente... achava que tudo deveria ser uma prévia para mais adiante, nada servia para ser vivido agora. Importava-se muito com as aparências, mas no íntimo, muitas vezes, sentia vontade de mandar tudo à merda... havia muito com o que não concordava... não apreciava, o tempo todo, as conversas fúteis... gostava de trocar ideias construtivas, de um bom bate-papo animado, mas as pessoas que a cercavam importavam-se mais em ostentar bens, em dizer o quanto gastaram na última balada ou o que comeram no último coquetel de lançamento de um livro qualquer. Muitas das pessoas que conhecia ostentavam clássicos da literatura universal na prateleira, mas não sabiam dizer sobre o que tratavam aqueles belos livros. Ela sabia... tinha prazer em saber, degustava o conhecimento... não era apenas um rostinho bonito. Porém, aquele ditado “digas com quem andas e te direi quem és” encaixava-se na vida social de Luciana. Pobre menina rica contaminada pelos vícios daqueles que a cercavam, todos farinha do mesmo saco e ela, portanto, aos olhos dos outros, não era exceção.

Não sabia dizer se era feliz ao lado do namorado de cinco anos. Sempre dizia que viviam bem, que ele era um “amorzinho”... faziam o sexo morno e convencional, estavam sempre de mãos dadas nas festividades e sorriam, mesmo quando algo não estava tão bem... afinal de contas os outros não precisavam saber dos problemas que afligem um jovem casal. Luciana cuidava dos estudos e do enxoval e o namorado cuidava das empresas e das festas de solteiro. Ela fingia não saber de suas escapadas... ele fingia não saber que ela não era feliz.

Renata

Renata foi para a pista apenas para evitar a briga. Não estragaria a festa da amiga, jamais... não gostava de entrar em brigas, mas, se entrasse, provavelmente não iria querer sair. Se desse uns tapas naquele rostinho de pati tomaria gosto. Sempre valorizou os amigos, sempre os respeitou e era querida por isso. Apesar de ser uma “Don Juan” de saias nunca causou mal-estar entre eles porque sempre tudo foi muito claro: “não se apaixone por mim”. Não era surpresa quando encontrava vários ex-ficantes numa mesma festa e realizava a confraternização entre todos. Ela queria apenas se divertir e que eles se divertissem com ela. Nunca escondeu sentimentos, sempre dizia o que pensava... e sempre dizia que nunca havia amado. Paixão sim, ela se apaixonava por tudo e por todos a todo o momento, mas como a paixão é fugaz, pouco sobrava... ficava o carinho e a vontade de encontrar outra pessoa interessante e assim Renata seguia um ciclo sem fim. Sentia-se invejada pelas outras garotas, por estar sempre rodeada por homens bonitos e cobiçados, sempre estar nos lugares certos nas horas certas, ter amigos em todos os lugares, divertir-se com eles, bater um bom-papo em torno de canecas de chope. Mas, às vezes, se sentia vazia. Faltava algo. Um dia alguém disse que ela era imatura... ficou pensando sobre isso: imatura para o amor? Imatura para o quê? Ela ainda não sabia... mas sentia falta de algo que a preenchesse. Amigos são legais, festas e boas conversas também, mas não é tudo... Renata divagava, pensava e conversava com seus botões... mas essa meditação não durava muito tempo, alguém chegava e perguntava se ela estava com algum problema. Renata não tinha o direito de querer estar só.

A mira do momento era o primo de Camila, ficaram amigos e ela estava apaixonadíssima... toda vez que falavam nele ela se empolgava e já havia arranjado tudo. Ele não teria como escapar... E quem queria escapar? Mas ficou sabendo, também por Camila, que uma garota estava a fim dela e isso mexeu um pouco com sua cabeça. Por isso estava em silêncio, tentando descobrir o que sentia após essa revelação. Sempre observou as mulheres, suas formas sempre a encantaram, mas nunca teve muita vontade de pensar seriamente sobre a possibilidade de beijar outra mulher na boca. Isso a excitava. Os homens não provocavam nela mais do que paixão... de repente uma mulher... quem sabe?! Renata se sentia atraída por todos, homens, mulheres... seu corpo, muitas vezes, a comandava, seus instintos... claro que não resistiria aos encantos de uma mulher. Precisava saber quem era.

Capítulo 3: A iniciação

— É aquela ali. – disse Camila, disfarçadamente, na lanchonete que ficava de frente à faculdade. — Chegou em mim e perguntou se você era minha amiga e quando respondi ela disse sem rodeios que estava muito a fim. – Camila tomava um suco olhando fixamente para Renata, tentando captar o que a amiga pensava a respeito da ousada proposta. A morena conversava com mais algumas garotas do outro lado da rua, mas não tirava os olhos das duas.
Renata ficou séria por um momento olhando para a tal garota... depois sorriu maliciosamente:
— Tudo tem sua primeira vez, não é? – e piscou. Camila sorriu e balançou a cabeça:
— Você é terrível!
Combinaram que o encontro aconteceria numa festa da faculdade. O curso de Jornalismo havia alugado uma chácara e Camila convidaria a tal menina misteriosa que “iniciaria” Renata na homossexualidade... ou não. A partir desse dia Renata não pensava em outra coisa, fantasiava situações, imaginava como seria o encontro e o possível beijo. Era excitante e ela mal podia esperar.

— Você vai à festa? – perguntou Camila na sala de aula para Luciana, que parecia não estar muito bem.
— Acho que não.
— Por quê? O pessoal te adora, a sala inteira estará lá!
— Meu namorado não poderá ir... viajará a negócios...
— E daí?! Vamos nós... eu e você. – esperou por uma resposta da amiga, que não veio. — Lu, na boa... você é grudada demais no seu namorado. Sua vida não tem que girar em torno dele. – Camila virou-se para a frente e Luciana ficou pensando na frase. Profunda a frase...
Depois da aula que ela não assistiu deu a resposta a amiga:
— Vou à festa. A que horas passo para te pegar?

A FESTA

Uma chácara chamada Onde o Judas Perdeu as Botas. Enorme. Linda! Um bang jump, uma cama elástica, som eletrônico, bebida e comida na faixa. Uma multidão, mesmo assim sobravam vários espaços vazios. A chácara era realmente grande.
Renata estava ansiosa... pensou na roupa que usaria. Poucas vezes se importou com esse detalhe. Foi até o guarda-roupa e retirou um jeans de cintura baixa, calçou uma bota e vestiu uma blusinha preta frente única, arrumou o cabelo ainda molhado, passou batom e um pouco de rímel. “Nunca me arrumei tanto para um homem como o estou fazendo para uma mulher... que nem conheço”. Havia chegado a pouco e deu uma espiada, uma olhada geral para averiguar o espaço e as pessoas. Conhecia muitos ali, pegou uma latinha de cerveja, acendeu um cigarro e dirigiu-se a eles sorridente.
Luciana não esperava muito da festa. Decidiu ir e comunicou ao Namorado que pouco se importou. Vestiu um vestido estampado básico, colocou um colar com enfeites de madeira para parecer simples e foi. Passou na casa de Camila na hora combinada. Camilinha a animava, tinha um ótimo papo, era engraçada e logo se viu contagiada... fazia tempo que não ia a uma festa sem a companhia do Namorado. Fazia uns... 5 anos! Camila insistia em dizer que ela estava linda e que tinha que curtir mais, sair com os amigos, beber... descontrair.
Quando chegaram, o estacionamento já estava quase lotado. Camila encontrou Renata algum tempo depois e foi até ela. Luciana reconheceu que aquela garota era a mesma que pretendia roubar SEU namorado naquele dia. “Que droga!”
— Rê?! – Renata se virou e deu um abraço apertado na amiga.
— Menina, como você demorou!
— É que vim com a Lu... Vocês já se conhecem, né? – comentou ironicamente e as duas se olharam sem dizer nada por instantes eternos. Renata sorriu e quebrou o gelo:
— Ah, sim... nos conhecemos. Mas, olha... estou desarmada! – ironizou levantando as mãos para o alto. Luciana correspondeu com um sorriso cínico.
— Fique tranquila porque você não terá quem atacar...
Ao terminar a fala Renata notou a presença da morena logo adiante e, olhando maliciosamente para Camila, retrucou:
— Você é que pensa.
As duas começaram a rir e Luciana sentiu-se incomodada, mas Camila esclareceu a amiga:
— Você acredita que aquela garota está a fim de beijar a Rê?
Luciana olhou para Renata surpresa.
— E você fará o quê?
Renata olhou nos olhos de Luciana de maneira divertida e respondeu prontamente:
— Vou beijá-la, claro!
A garota riu incrédula. Olhou para Camila que confirmou o que aconteceria. Em seguida, Renata saiu em direção à morena que a olhava de longe.
— Não acredito. Sua amiga vai beijar outra mulher?
— É o que parece...
— Nossa! Como é leviana... – comentou com expressão de nojo. Camila sorriu e:
— Não a julgue, Lu... Renata é uma ótima pessoa... ela só está curtindo, assim como a maioria das pessoas faz. Ela é muito mais do que você está vendo.
— Será? – questionou num misto de cinismo e mau humor dirigindo-se à lanchonete montada em um dos espaços da chácara.

As duas conversaram por um longo tempo, colocando em prática o famoso jogo da sedução. Depois seguiram para um lugar escuro e discreto. Renata estava nervosa apesar de não aparentar. Carregava toda a adrenalina da curiosidade, da expectativa... sentia um frio na espinha toda vez que a morena apertava sua mão. Estava extremamente excitada e achava que teria uma “ejaculação precoce”... estava a ponto de estourar quando a morena começou a sussurrar em seu ouvido que ela era linda e que seus olhos a fascinavam há tempos. A morena colocou a mão espalmada na coxa de Renata que foi à loucura e sorria o sorriso daqueles que não sabem o que dizer, apenas sentia o arrepio, o tesão invadindo e tomando conta de seus sentidos. A garota mordeu levemente sua orelha e disse que ela era “muito gostosa”... beijou seu pescoço com lábios carnudos e, sutilmente, passou a mão em seus seios por cima da blusa. “Ela está me provocando...”, foi o que concluiu Renata no alto de sua experiência sexual. Resolveu dar o troco e começou a acariciar as pernas de sua morena que estava de saia e sem mais nada por baixo. O tiro saiu pela culatra e, quando Renata percebeu que não havia uma calcinha que separasse sua mão do sexo daquela mulher, quase desfaleceu de prazer, de tesão... “que garota é essa?!!”. Foi em frente e acariciou o sexo da morena que gemia baixinho e pôde constatar o quanto estava molhada. Renata nunca havia feito nada parecido e lamentou não ter iniciado mais cedo. Estavam no ápice... beijaram-se e Renata chegou à conclusão de que nunca havia provado beijo melhor... nenhum homem havia oferecido a ela tamanho prazer e ela saiu de órbita por várias vezes seguidas... até que não resistiu e foi ao centro de prazer daquela mulher fantástica que mostrou a ela sensações que ela nem sonhava existir. Abriu suas pernas com delicadeza e deslizou sua boca até o sexo daquela morena linda e tããããooo habilidosa. A morena gozou, Renata gozou...como nunca em sua vida.

No lado oposto...

Luciana já havia conhecido algumas meninas “saidinhas”... suas amigas até. Portavam-se como santas mas sempre davam um jeito de aprontar, mas claro que só as amigas mais íntimas sabiam das esbórnias em que se metiam. Mas... essa Renata... não tinha o mínimo pudor, não fazia questão de esconder nada, suas conquistas fúteis, vazias de sentimentos... uma oca, era isso que era. Imagina, beijar outra mulher! “Tá, tá bom, claro que algumas vezes até já pensei... mas... Ahhhh, o que é isso, Luciana!!! Acho que esse ambiente não é bom pra mim. Não é certo, não é legal. Sempre fui fiel ao meu namorado e só de pensar nessas coisas já o estaria traindo. Que horror!!!”. Mesmo tentando fugir de seus pensamentos, seus pensamentos a perseguiam perguntando: “O que, neste exato momento, as duas estariam fazendo naquele lugar escuro e deserto?!” – para fugir de seus pensamentos pecaminosos, decidiu ir conversar com seus amigos.

Renata saiu, literalmente, da moita. Saiu primeiro, depois de se arrumar e se abanar... “que calor dos infernos!” – respirou fundo para encarar a festa que apenas começava e “como começava bem...”. Procurou por Camila, mas não a encontrou. Resolveu pedir uma cerveja bem gelada e sentou-se próxima a um dos canteiros para pensar em tudo o que havia acabado de acontecer. Viu mais adiante Luciana rodeada de amigos. Nunca a tinha visto sorrir e ela tinha um sorriso lindo! “Putz, agora estou olhando diferente para todas as garotas!” – pensou divertida. Mas, era sério... Luciana sempre tão cheia de frescuras, com medo de se soltar, de gargalhar, de falar alto... ela e aquele namorado... o namorado que nem tem nome... era apenas O Namorado. Que chatice! Mas, ela sorria... alguns garotos a olhavam com adoração, um deles buscou um suco para ela. Uma garota contava algo confidencial perto de seu ouvido e ela dispensava toda sua atenção. Dava para perceber que Luciana era uma boa amiga, querida por eles, tratada com carinho e respeito... ela olhava nos olhos das pessoas: “gosto de quem olha nos olhos, mas, definitivamente, não nos demos bem.”. Com Renata sempre acontecia isso, ou a amavam ou a odiavam. Estava acostumada com declarações de amor e repulsas... isso nunca foi um trauma.

De repente viu Camila se aproximar da roda já meio bêbada e sem batom: “entendi o sumiço”. Renata se levantou e foi até lá. Não conhecia todos que estavam ali... aquele era território de Luciana e sentiu-se um pouco deslocada. A garota do Namorado a observou de canto de olho e a ignorou, continuou conversando com a amiga que lhe contava algum “causo” escandaloso e se divertiam com a história. Logo as atenções eram todas para Camila, que contava suas “peripécias” na festa. Na pista, após várias tentativas do jogador de malabares de beijá-la, ela acabou ficando com o cuspidor de fogo. As meninas morriam de rir enquanto os carinhas faziam piadas... tudo virou uma piada e até Luciana se divertiu. Depois do relato emocionante das aventuras de Camila o pessoal começou a dispersar: uns a fim de caçar, outros de dançar e beber, outros de irem à fila do banheiro etc. Sobraram as três, mas Renata já estava encontrando uma maneira de sair dali. Quando se preparava para se afastar Camila a puxou:
— Opa! Aonde pensa que vai?! – perguntou com a voz meio mole, de quem já havia entornado todas. — Pode sentar aqui e me contar o que aconteceu atrás daquela moita ali ó! – e apontava para o lugar com expressão maliciosa. Luciana fechou-se em sua habitual “educação” e:
— Bom, meninas... podem conversar à vontade que vou até ali...
— Não, não e não... fica aqui, Lu! Já que você sabe do que se trata ouve também... – Camila a puxou e as três se sentaram no canteiro... a música ao fundo era animada e a noite estava maravilhosa. Tudo ia muito bem.
Renata, obviamente, não contou detalhes, mas o pouco que contou deixou Camila boquiaberta e Luciana roxa. As duas amigas desinibidas se divertiam muito com tudo aquilo... já a namorada do Namorado estava um pouco sem graça. Renata pensou que Luciana não ia mesmo com a sua cara: “onde está aquele sorriso?! Ela me odeia! Que triste!” após o irônico pensamento, não resistiu e provocou:
— E aí, Luciana? O que achou de minha primeira experiência lésbica?
Camila esboçou um sorriso sarcástico enquanto observava a reação da amiga pati.
— Acho que cada um faz de sua vida o que quiser... – respondeu vagamente Luciana olhando nos olhos de Renata, que correspondeu.
— É... também acho isso. Faço o que quero de minha vida e não devo satisfações a ninguém. Não preciso de aparências...
— Concordo. Cada um leva sua vida como acha melhor.
Camila, que ainda não havia perdido seu senso de percepção, percebeu um clima tenso se formando e, como era adepta das boas energias, tentou amenizar a coisa:
— Ah! Lu! Foi apenas uma experiência... estamos na idade de experimentar, de curtir, aproveitar... se não estamos violentando nem desrespeitando ninguém, acho que não há nada de errado.
Mas Luciana não tirava os olhos dos olhos de Renata, que a provocava sem dizer uma só palavra.
— Acho mesmo que algumas pessoas têm necessidade de se autoafirmar, de se sentir desejada a todo momento. Também acho que isso faz parte do crescimento de alguém... – comentou com um sorriso irônico e isso chateou Renata que desejava sim um sorriso, mas não aquele.
— Está dizendo que sou imatura?
— É um modo de interpretar...
Renata tirou os olhos dos olhos de Luciana, sorriu cinicamente olhando para o céu estrelado e atacou:
— Falou a senhora experiência...
— Não estou dizendo que sou experiente, apenas meus valores são diferentes.
Renata voltou a encará-la séria:
— No que você acha que é melhor do que eu? Na sua forma de viver? Você acha que seus valores são melhores do que os meus? Só porque você na-mo-ra há dez mil anos e eu beijo várias bocas em um mês? – Luciana ficou sem reação e Renata não perdeu tempo: — O fato de você ter um relacionamento estável não significa muita coisa... porque, enquanto você está na barra da calça do SEU NAMORADO eu estou descobrindo a vida, provando do que ela me oferece para poder escolher.
Lu se recompôs:
— É um ótimo pretexto para justificar sua vulgaridade...
Quando Renata abria a boca para retrucar.
— Paaara! Parem vocês duas!!! Eu não estou em condições de apartar brigas, portanto, parem com essa discussão ridícula senão vou vomitar!
Renata se levantou, mas, antes de sair, foi até Luciana e a encarou bem de perto:
— Prefiro ser quem sou a me esconder atrás de uma máscara como a sua.
Saiu caminhando calmamente. Mais adiante encontrou um rapaz e, conversando, seguiram em direção à pista de dança.
— Você também pega pesado, hein, Luciana?! – reclamou Camila quase sóbria.
— Desculpa, Cá, mas essa sua amiga é insuportável.


continua...

AMOR E ÓDIO: FACES DE UMA MESMA MOEDA

Capítulo 1: Luciana e Renata

Algumas histórias de amor ou ódio, ou amor e ódio, acontecem antes que as protagonistas se deem conta. É como se o Destino convocasse seu servo Cupido e o alertasse para que preparasse as coisas sem o mínimo barulho... devagar, sem chamar a atenção. Preparado o terreno é autorizada a flechada... mas só depois de algum tempo. Planos do Além que vão além de nossa vã consciência. Muitas vezes, somos “joguetes” do Destino... “o que está escrito está escrito...” Foi mais ou menos assim que aconteceu com Luciana e Renata.

Seis anos atrás.

Luciana chegou ao barzinho com o Namorado. Camila estava numa mesa gargalhando com Renata e mais três garotos.
— Camila?
— Lu? Não acredito que veio!!!
Era aniversário de Camila, 22 anos. Vamos à primeira apresentação: Camila, garota extremamente extrovertida, que fazia amizade fácil, em todos os ambientes, com qualquer tipo de pessoa – desde mauricinhos e patricinhas, passando pelas pessoas “esforçadas”, como ela, até bandidinhos arroz-de-festa –, totalmente sociável, sorridente e paz e amor, portanto, em sua festa havia uma fauna exuberante, diversas espécies, para todos os gostos. Andava pelo bar com um copo de batida numa mão e um cigarro na outra a fim de dar atenção aos amigos que vinham de todas as partes. Ah! Ela era estudante de jornalismo e, também, era conhecida pelos diversos admiradores pelo codinome de CUPIDO.
— Imagina que não viria à festa de minha amiga querida!
Fala de Luciana, 24 anos. Amiga de Camila. Enquadrava-se no primeiro tipo de amigos da aniversariante. Uma pati... bom, talvez ela não seja tão pati assim, mas cabe a mim, agora, apenas relatar os fatos. Uma pati que, como toda pati, montada em roupas de grife, acessórios caros e maquiagem de última geração, tornava-se esteticamente linda: loira (melhor dizer um castanho claro, porém, com reflexos), alta, pele lisinha, olhos esverdeados e sorriso de mis. Cursava jornalismo com Camila... interrompeu o curso por um ano para viajar o mundo. E namorava. Namorava há cinco anos o mesmo rapaz mauricinho – peito estufado, gel no cabelo, gingado de menino-rico-que-não-está-nem-aí – como aqueles de seriados norte-americanos. O Namorado não desgrudava e ela não desgrudava do Namorado... os dois formavam um belo casal... os dois lindos, os dois ricos, os dois pretendiam se casar e ter filhos.
— Bom, deixa eu te apresentar o pessoal então. – apontou Camila para a mesa onde estavam mais uma garota e três rapazes. — Esse é o Murilo, o Douglas, o Luís e aquela louca que não para de rir é a Renata. – Renata, ainda gargalhando, ergueu o copo para o casal.
Renata: ia ao psicólogo quando pequena porque seus pais chegaram à conclusão de que era “superativa”. Foi expulsa de algumas escolas por indisciplina, mas sempre passava de ano com boas notas. No momento, tinha 22 anos e ainda não sabia se faria arquitetura ou artes cênicas. Divertidíssima, não se enquadrava em nenhum dos tipos de amigos de Camila... Renata era uma exceção. Conhecida como “pegadora”, beijava a pessoa que estivesse a fim... não beijava quem não estivesse a fim e, por despeito, também era conhecida como “galinha”. Loira, de olhos castanhos claros, nem alta nem baixa, nem gorda nem magra, Renata teria tudo para ser normal, mas não era. Talvez seja seu jeito de olhar, de sorrir, de conversar... talvez o conjunto e aí... poucos eram aqueles que escapavam.
— Acho que alguma coisa é muito engraçada... – comentou Luciana que achou um desrespeito ser cumprimentada por aquela garota que mal conseguia falar de tanto que ria.
— Não liga, é que eles já estão ficando bêbados.
O casal modelo afastou-se um pouco e Camila voltou a circular. Renata continuava na sessão piadas com os meninos até que ótimas músicas começaram a tocar e ela foi para o meio da pista. Ah! Renata adorava chamar a atenção.
A pista estava cheia de amigos de Camila e Renata conhecia todos eles. Dançaram quatro sons consecutivos no maior agito. Ótima festa, ótimo DJ, ótima bebida, ótimas companhias. Renata se divertia porque seu lema sempre foi o batido “viva o presente”. Ela preferia que fosse assim, estar rodeada de amigos e rir muito, não estava na idade de pensar em grandes responsabilidades... pelo menos não naquele momento. Ela já determinou que no próximo ano essas farras diminuíriam porque assumiria um compromisso, faria uma faculdade, encontraria um bom emprego. Todas essas pessoas pensavam que ela só curtia festas... não, ela não curtia apenas festas, sabia que precisaria fazer algo de mais... como direi... de mais... sério. Ela fumava, bebia e fechava os olhos enquanto dançava... sentia quando as pessoas a olhavam e se sentia envaidecida. Sempre dizia: “não se apaixone por mim... ainda não estou preparada”. Ela queria ainda provar muitas bocas antes de se apaixonar.
Alguém tocou seu ombro e ela abriu os olhos. Era mais um amigo, se abraçaram e conversaram um pouco na pista, aos berros, um gritando no ouvido do outro, mas se entenderam. O amigo trazia um amigo, que ela não conhecia... e logo se interessou. Foram apresentados e no caminho para o bar esbarrou em alguém:
— Putz, desculpa! – olhou e lembrou daquele rosto, já o tinha visto... mas não era importante. Foi com o bonitão até o bar pegar uma bebida. Conversa vai conversa vem estavam dando altos beijos!
Luciana quase derrubou o suco em cima do Namorado. “Que garota folgada!” – lembrou-se que foi a mesma que a cumprimentou às gargalhadas... um desrespeito. Tudo bem, Camila conhecia mesmo todo tipo de gente, tinha que relevar. O namorado a abraçava pela cintura enquanto ela olhava o movimento... vez ou outra trocavam uma palavra amorosa e logo se calavam porque o som estava alto. Quase nunca brigavam, se davam superbem... supereducados. Luciana tinha a vida que pediu a Deus: educada nos melhores colégios, sempre foi boa aluna, só infringiu as “leis” poucas vezes... uma vez fumou escondido e outra vez tomou um porre com umas amigas no Guarujá. Depois entrou na faculdade e decidiu, repentinamente – o que não é do seu feitio –, viajar para adquirir cultura. Seu pai pagou um tour pelo mundo e depois de um ano destrancou a matrícula e voltou ao curso. Namorava o Namorado desde os 19 anos... ele também era de boa família e a união geraria bons negócios no futuro e para os futuros filhos. Perfeito. Terminaria o curso de jornalismo para escrever na Caras e casaria com o futuro herdeiro das empresas da família fulano de tal.
Olhou ao redor e viu Renata se atracando com o moreno no canto do bar. Pensou no quanto uma pessoa poderia ser vulgar. “Imagina, não faço isso com meu namorado em público...” e continuava a observar a cena quando Camila se aproximou:
— A Janaína está aí...
— Ah! Já falei com ela. – depois de um instante em silêncio. — Aquela sua amiga parece estar bem louca, né?
— A Rê? Não, ela é assim naturalmente. – e sorriu.
“É uma galinha”, pensou Luciana enquanto correspondia ao sorriso da amiga que a puxou repentinamente pela mão e a levou para a pista.
— Me empresta sua namorada um pouquinho que adoramos essa música. – e foram dançar. O Namorado? Ficou lá.
As duas se divertiram durante as duas músicas ótimas que tocaram e Luciana teve a oportunidade de, por duas músicas, se divertir de verdade... soltar-se, demonstrar felicidade e não se importar tanto com a etiqueta num lugar como aquele. Ela percebeu que poucas vezes divertiu-se tanto... percebeu isso durante o decorrer de duas músicas. Mas logo se sentiu culpada por algo, sentiu que não deveria se comportar assim e voltou para o lado de seu Namorado... mas... seu Namorado não estava no lugar onde ela o havia deixado.
Percorreu os olhos pela multidão e o encontrou no bar. Olhou melhor e com mais cuidado para ter certeza do que via: via a galinha ao lado do SEU Namorado e os dois conversavam. Foi até lá.
Enquanto caminhava observava. Ela tinha um copo nas mãos e sorria, olhava nos olhos, gesticulava e ele sorria também... um sorriso encantador de quem está encantado, também olhava nos olhos. Que absurdo era aquele?! A compostura quase indo pelo ralo.
— Querido, vamos embora?! – esqueceu-se da educação e puxou o Namorado com força, retirando-o dali o mais rápido possível.
— Ei, espera aí, garota?! Não tem educação? – Renata a alcançou e a fez parar.
— Com certeza tenho muito mais educação do que você! – retrucou Luciana olhando nos olhos de Renata.
— O que você acha que eu iria fazer? Roubar seu namorado? – Renata estava indignada.
— Não sei, não te conheço...
— Isso mesmo! Você não me conhece...
— Mas sei da sua fama!
— Olha aqui...
— Opa! Opa! O que é isso meninas!!! É minha festa... pega leve! – chegou Camila entrando no meio das duas e olhando bem nos olhos de Renata que era a mais pavio curto. — Por favor, Rê!
— Não vou estragar sua festa... fica tranquila. – e saiu para o meio da pista.
— Lu, calma aí... a Renata é gente boa...
— É... deu pra notar. – despediu-se da aniversariante e foi embora... com o Namorado debaixo do braço.
“Que ridícula! Achou que eu fosse fazer o que com o namorado dela? Nunca peguei namorado de amiga da minha amiga... Vai para o inferno! Aquela soberba, aquele ar de superioridade... uma patricinha de merda que vem para um lugar como esse mostrar roupas caras e um namorado mauricinho! Nunca vi mais gorda... chega do nada a ainda quer armar barraco pra cima de mim!!! Ninguém merece!!!”

“Uma galinhazinha mesmo! Mal eu viro as costas e ela não perde tempo... cai matando em cima do meu Namorado! Aquele ar de espontaneidade... sorrisos para todos, olhares para todos... descontração irritante! Não passa de uma vazia, disposta a beijar o maior número de bocas possível.”

Essas são Renata e Luciana.

Voltando ao assunto...

Então...

Voltei. Meio assim porque agora, neste exato momento, não tenho nada inédito. Mas reler Renata, Luciana e Camila me deu vontade de publicá-las novamente. Vou postar aqui no blog e no Livre Arbítrio (www.livrearbitrio.net).

Na época me disseram que acabei o conto muito rápido, que não dei às personagens o “clima” merecido. Bom, revi isso e acho que agora as tratei como merecem, rsrsrs.
Para ter tempo de escrever algo legal, inédito, para o próximo semestre, talvez eu republique outro antigo... espero que vocês gostem de um “vale a pena ler de novo”.
As novidades futuras eu as conto aqui, ok?

Beijos, meninas... obrigada sempre.
Mari Cortez.