terça-feira, 19 de julho de 2011

Capítulo 14: Quando se finge que nada aconteceu...

“Tudo decidido, nada resolvido.” Essa era a sensação que ambas tinham. Ficou aquela contradição: a cabeça determinou algo que o coração não quis, o velho conflito... guerra fria entre razão e emoção, a luta interior havia começado. Cada uma lutava a sua maneira e com as armas que possuía.
Como são complicados os apaixonados!
Nós sabíamos que elas se gostavam e que desejavam a mesma coisa, mas aí surgiam as interpretações tão pessoais sobre os últimos acontecimentos, as palavras desencontradas, a burocracia que impedia um entendimento pleno. Quem nunca passou por esses tão conhecidos mal-entendidos?
As semanas passavam. Poucos dias depois daquela conversa afastaram-se um pouco, afinal, a paixão dói e quando se torna ferida então, o simples olhar da pessoa amada é como lâmina que corta e arde, sangra e dói. Apaixonados são complicados porque, mesmo doentes, não vivem sem a doença e, apenas se estabeleceram – um pouco, é bom frisar – já estavam se torturando novamente. Encontravam-se, saíam, conversavam, riam revestidas por uma “carapaça” que dizia “estamos ótimas, o que aconteceu foi passado”. Mentira. A Cupido, com seus poderes “extraterrenos” sabia disso.
— Não acredito que vocês duas estão separadas mesmo sabendo que se gostam. – comentou olhando para o céu azul de uma tarde linda. Ela e Renata caminhavam por um parque próximo ao hotel, estavam no horário de almoço do expediente.
— Além de não acreditar em mim, Luciana tem medo... não tenho o poder de tirar com as mãos o medo que ela tem de se relacionar. – argumentava Renata séria, enquanto caminhava com as mãos no bolso de cabeça baixa.
— É... se ela confiasse em você não teria medo... talvez não.
— Eu já sei disso, não precisa ficar me lembrando. O que fiz antes de gostar dela é passado... eu mudei e ela não quer ver. Não acho que ela goste tanto de mim como eu dela.
Cá conhecia a amiga e sabia que o que dizia era sincero.
— Vai desistir?
— Não... por enquanto.
Enquanto isso, Lu corria com matérias, entrevistas, arquivos e internet... e pensamentos, ou melhor, O Pensamento: Renata.
Eu já disse que elas ficaram algum tempo sem se falar. Luciana sentia falta de Renata, de sua alegria, suas gargalhadas. Quando se viram depois da maldita conversa, ficou um clima no ar, de desconforto, embaraço e medo. A Cupido sempre intermediava – se não fosse ela na vida dessas duas... – sempre exalava suas boas vibrações. Mas, mesmo assim, elas, por algum tempo, sentiram-se como há sete anos, quando não se conheciam e não tinham o que falar.
Quando se encontraram num barzinho que Camila disse que era o máximo viram-se diante do embaraço. Porém, se Luciana tinha a eterna dificuldade em elaborar frases complexas em situações tensas, Renata não... pelo menos não tanta dificuldade, mesmo estando diante de sua paixão. Foi a primeira a falar, a olhar nos olhos, a sorrir e, logo depois, gargalhar... sem nenhuma malícia que provavelmente intimidaria Luciana: “Ela é um amor. Ela está sendo um amor.”. Concluiu Lu ao observá-la contar um dos episódios hilários que sempre acontecia no hotel.
Vestiram mesmo máscaras, mas as posições continuaram as mesmas: Lu com máscara de tímida e Rê com máscara de extrovertida. Passaram a conversar sobre assuntos triviais – trabalho, baladas, filmes, shows, teatro. Camila estava no meio de tudo, captando as energias, obviamente. Por enquanto, ela só observava.
Não gostavam de ficar sozinhas por muito tempo... ambas ficavam nervosas e o assunto, repentinamente, terminava e as palavras fugiam... e elas bem que tentavam manter as máscaras. Quando as três estavam juntas, brincavam muito e Rê aproveitava para lançar indiretas e deixar Lu ainda mais vermelha. Já Lu, lançava suas indiretas apenas quando estava bêbada!
Já que estamos no capítulo dos ditados, este é o de Lu: “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.” Em sua mente, moldada desde criança, antes pouco do que nada era um lema de vida, mesmo quando havia exceções... poucas exceções. Em sua cabeça, preferia ter Renata como amiga a tê-la como um caso efêmero e frustrado, que, no fim, não deixaria nem a amizade. Tinha medo de perdê-la, amava-a demais para tê-la por alguns momentos apenas. Por outro lado, seu coração dizia “foda-se”... soprava em seu ouvido que teria que se jogar naquilo seja lá onde fosse dar. Coisas de conflito e guerra fria.
Tudo bem, ela era uma romântica incorrigível!
Preferia sair com ela nos fins de semana, conversar besteiras ao redor de uma mesa de bar acompanhada por Camila. Preferia olhar para ela, sorrir para ela, falar para ela assim, de longe, do que ver o que construíram – com tanto esforço da Cupido – terminar. Doeria se a visse com outra pessoa, não gostava nem de pensar... se bem que notou que já fazia algumas semanas – desde que ambas voltaram de suas respectivas viagens – que ela não beijava ninguém, pelo menos não nas sextas e nos sábados, que eram os dias em que se encontravam. Enfim, poderia ser que ela tivesse mudado, “mas acho que não há como voltar atrás...”.
Lógico que há, Luciana... sempre há como voltar!
Renata estava realmente mudada, isso era nítido. Aceitou o que Lu propôs: amizade. Às vezes, tinha vontade de explodir, gritar que não queria só isso, que não aguentava mais fingir que estava tudo bem e que continuavam a ser grandes amigas. “Foda-se a amizade!” – era o que pensava em seus momentos de fúria, quando o desejo ardia dentro dela e ela só podia extravasar com ela mesma, pensando em Lu, imaginando que aquela mão que percorria o seu corpo era a dela e não a sua.
O Destino gosta mesmo de jogar e utiliza-se de seus discípulos para fazer seu jogo.
Soprou um dia no ouvido da Cupido que ela precisava agir, que não era justo ver suas duas amigas tristes, querendo-se mutuamente e, mesmo assim, separadas. Estava diante de seu computador digitando uma matéria quando parou repentinamente e pensou olhando em direção a Luciana que, concentrada também digitava. “Precisa haver uma maneira de juntar essas dementes!”. Colocou o lápis na boca... pensou, meditou... esboçou uma ideia. Olhou para o lado e viu Caio conversando ao telefone. Lembrou-se de um dia em que ele perguntou se Luciana era comprometida e quando soube que não, interessou-se em conhecê-la melhor, aliás, toda a redação gostaria de “conhecer” Luciana melhor, afinal ela era a musa do jornal. Mas, na ocasião, Camila descartou o possível pretendente porque estava preparando Lu para receber a declaração de Renata – “aí vem a imbecil bêbada e estraga tudo!”. Mas, agora, confabulando com seus deuses interiores, arquitetou um plano.
Levantou-se e foi até a máquina de café. Voltou interpretando um ar de tédio em direção a Caio.
— Não consigo terminar a matéria, acho que meu vocabulário sumiu.
Ele a olhou por cima dos óculos e sorriu... ele tinha um sorriso lindo, moldado por um queixo quadrado e uma barba rala.
— Há dias em que é impossível trabalhar, ainda mais numa sexta-feira em que o sol brilha lá fora. – disse virando-se para ela. Ele era superatencioso.
— É... ainda bem que é sexta. – intensificou seu ar de tédio. — Se bem que eu e a Lu nem temos programa para hoje... já estamos de saco cheio dos mesmos barzinhos.
De repente o rapaz colocou uma das pernas dos óculos na boca pensativo.
— E se saíssemos hoje?
Bingo!
— Ah! Seria legal, né? Mas só se for para um lugar diferente... nada de balada de rato.
— Poderíamos ir à choperia de um primo meu, lá em Pinheiros... muito legal e rola uma música ao vivo...
— Qual é o estilo?
— MPB.
— Mas vamos levar mais uma amiga... a Renata.
— Ótimo. Eu não levarei ninguém, ficarei com as três mulheres lindas pra mim!
Camila riu por dentro.
— Claro. Tá combinado então.
“Mais fácil do que pensei”. Cá sabia da “quedinha” que o homem grande tinha pela amiga e, certamente, achou que seria a oportunidade ideal de “conhecer” Luciana melhor. Camila não sabia direito o que fazia... só pensou que Luciana poderia realmente se interessar por ele – e quase se arrependeu – depois que já havia marcado tudo, inclusive já havia conversado com Renata que topou na hora. A Cupido tinha um plano... que nem ela sabia direito qual era. Ela só fez o que o Sr. Destino pediu.

continua...

2 comentários:

franciele disse...

ansiosa pelo proximo capitulo.

Anônimo disse...

Oieee adoro seu blog, vc tem msn? preciso te perguntar uma coisa, me adiciona karladis@hotmail.com